sábado, 28 de dezembro de 2019

Observações - R e d e

R e d e
Quem gosta, me importo,
Quem acompanha, beleza,
Quem só se mostra, observo,
Quem briga, rezo,
Quem dá risada, me divirto,
Quem é bacana, porta aberta
É diferente?, chega junto,
Gosta de arte?, materi arte lize-se!
Quem acha que é bolacha, digo que é pacote,
Tem mau humor, afaste-se.
Quem eu gosto, acompanho,
Se acha que falo demais, chama pra trocar uma ideia
Mas pague o café.
Seja bem vindos meus amigos amores bacanas sem membranas.
Aqui é nosso!

Crônicas no olhar - Aleluias ou siriris?

Aleluias ou siriris?


Quando o calor chega, liberam-se as aleluias.
Curioso o mundo das aleluias: são expulsas dos seus casebres pelo calor, vestidas em asas transparentes e corpetes de mulatas. Afora a certeza da busca por novos lares, voam sem orientação em busca de um clarão, uma luz e depois morrem "desaladas", cansadas pelo balé circular.
É lindo e cruel.
Rapaz 1 é barbudinho, tem alargador pequeno na orelha, é vivaz, tem uma voz baixa e doce e óculos dourados.
Rapaz 2 é moreno, bonito, cabelos raspados, voz baixa e serena.
Ambos conversam sentados atrás de mim no ônibus parcialmente cheio.
Rapaz 2 - Eu trampo nisso aí. Eu faço estrutura de rede.
Rapaz 1 - Ai que gostoso.
Rapaz 2 - Toda estrutura de rede da empresa eu que fiz. Semana passada mesmo, fiquei inteira em Campinas.
Rapaz 1 - Ai que gostoso!
Rapaz 2 - Gostoso nada, 3 horas para ir e 3 para voltar. Se pagassem hospedagem...
Rapaz 1 - A empresa não paga?
Rapaz 2 - Não. Fui de ônibus.
Rapaz 1 - Ai, que gostoso.
Rapaz 2 - Se fosse quando quebrei o pé, ia ser foda.
Rapaz 1 - Quebrou no skate?
Rapaz 2 - Foi. Mas foi bom.
Rapaz 1 - Bom?
Rapaz 2 - É! Melhor quebrar o pé do que o ligamento.
Rapaz 1 - Aí você recebeu pela Caixa?
Rapaz 2 - Sim, só com os pés para o alto.
Rapaz 1 - Aiiiii, que "gostosuu". E o valor?
Nesse momento chegamos ao terminal de metrô onde muitos desembarcam. Desci sem ouvir o final da conversa. Os rapazes desceram também, tinham a mesma estatura.
No caminho da baldeação, fiquei pensando o quanto somos aleluias, muitas vezes saímos dos nossos casebres à procura de uma luz. Perdemos as asas ou voltamos mortos? Ou no mulato corpo batalhando para novas asas? Passa uma senhorinha falando alto ao celular que pegou o uber como se fosse um prêmio.
Já no vagão do metrô, começo a escutar as mesmas vozes, de novo.
Rapaz 1 - Eu sou horista lá na escola onde trabalho. Me pagam pelo tempo que estou lá.
Rapaz 2 - Você tá dando aulas?
Rapaz 1 - Faço de tudo.
Rapaz 2 - Ai que gostoso.
"A ordem das árvores não altera o passarinho", relembrei Tulipa Ruiz.
Mas, para as aleluias, o passarinho altera o seu verão.
E eu sigo adiante...
Ai que gostoso!

Conversas do cotidiano - Silêncio

Silêncio


Sentei no metrô, voltando do cinema, tempo úmido, fome. Pensando que o povo é a semelhança daquelas crianças do moedor de carne do "videoclipe" do Pink Floyd.
Sento. Saco meu revólver de tela, mas antes, como bom virginiano, dou aquela panorâmica no quase vazio vagão.
Duas lindas mulheres, provavelmente namoradas, conversam baixinho de mãos dadas. Ninguém olha para ninguém, eu penso. E erro.
As moças descem sorrindo e leves como deve ser o amor. Sorrio. Escuto.
Voz - Viu que até a Camila Pitanga tá namorando mulher?
Meu ouvido regurgita a pergunta e olho, no sentido da voz. Perto de mim, uma mulher de bolsa preta no colo, cabelos presos e castanhos, de vestido ensolarado em formas tão bobas, fala procurando aprovação.
"Tem gente que merece virar carne moída mesmo" - meu pensamento mudo fala. Nem voz saiu. Meu corpo distanciou-se de perto da "senhoura" como se tivesse vida própria. E tem. O corpo fala!
"Livrai de mim os talentos para carne moída".

Observações - Não é burro, é jegue.

Não é burro, é jegue.
(Alusões à parte aos lindos animais)
Eu ando assim de saco cheio!
Saco cheio de tanta arbitrariedade e injustiças.
Injustiças proclamadas como benfeitorias por tanta gente.
Gente que se acha mais gente,
Inconsequente eu diria.
Diria até que um tantão assim de falta de humanidade.
Humanidade essa que é nossa melhor porção.
Porção de falas e ações para ferir.
Ferir, ferir. Ferir!
Ferir só pode ser o verbo da vez desses aí.
Aí fico aqui pensando com botões rotos, se o Homem deu certo.
Certo ou errado?
Errado seria eu exagerado
Exagerado seria eu errado.
Errado é um mundo idealizado de acordo com o umbigo daquele que se acha o melhor. A bala que matou Kennedy. Tem gente que quer ser a faca do já solto homem que cometeu um atentado federal.
Federal! Ainda não se entendeu o real significado de Federal.
Federal não é sinônimo de pessoal.
Pessoal, eu ando de saco cheio!
Saco cheio, repleto, abundante, poderia ser de vivermos melhor, de respeito, de amor como pregou um certo refugiado que daqui alguns dias fará aniversário e nem bolo terá.
Terá cerveja, já que a lei é contrariar.
Ando mesmo de saco cheio de ver letreiro acabando com o pensamento.
Pensamento é a única forma de nos tornarmos mais humanos.
Humanos, querem nos abafar, os animais estão à míngua, os pobres no penhasco, as minorias no limbo, os artistas na linha de tiro, os idosos nas mãos de uma força maior, as mulheres passadas pra trás, o trabalhador, só cansaço.
E enquanto isso a farra corre solta no Palácio.
E videozinhos de marmota humilde totalmente idealizados para massa de manobra transformar em voto.
É!
Ando de saco cheio.
E vou vivendo.
Porque a vida, essa não me abandona.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Conversas do cotidiano - Exatas?

Exatas?
Sexta-feira. Noite. Recém saído da clínica, onde sempre é muito bom, onde histórias se cruzam, risadas "gargalham", regam-se massagens, bem estar e energias renovadas.
Voltando para casa, observando, como de costume, mantendo-me vivo nessa cidade ora zumbi, ora vivacidade, ora cores primárias encaracoladas em cores cinzas. Na lotação, em pé, olhar atento, observo um rapaz sentado em seu cantinho de descanso, fones ao ouvido, vendo uma suposta série em seu aparelho celular, uma beleza almodovariana. Aproxima-se uma moça bonita, cabelos afros, olhos jabuticaba e pele reluzente em uma base fora do tom. Cutuca o garoto, falando:
Moça: Ah, segura aí! (Tirando uma mochila gordinha dos ombros).
Rapaz: Opa! (Tirando os fones e desligando o filme à contragosto) Quanto tempo! Me dá!
Moça: Deixa aqui, tá pesada. Voltando do trabalho?
Rapaz: É! Estava vendo uma série. Estou vindo lá do Ipiranga.
Moça: Eu saí da loja agora.
Rapaz: Puxa! Está lá ainda?
Moça: Tô.
Rapaz: Eu agora estou estudando. Difícil.
Moça: Que legal! Tá cursando o quê?
Rapaz: Economia.
Moça: Nossa, você gosta de cálculos?
Rapaz: Mas economia não é cálculo; é Humanas, não é Exatas.
Moça: Eu que não faça as minhas contas que não sobra um trocado.
Rapaz: A economia é mais análise de dados.
Moça: É? Então é uma análise ruim porque ninguém tem dinheiro.
Rapaz: Não tem dinheiro mas compra tudo que vê pela frente. Aqui mesmo. O povo se acaba com a batata.
Moça: Mas aí não é economia, é fome.
(Ouvi uma risadinha abafada, provavelmente alguém também ouvia a conversa)
Rapaz: A Economia analisa justamente esse consumo e essa procura, essa compra.
Moça: Eu nunca faria Economia. Fiz Psicologia. Um ano só.
Rapaz: Parou? É bom estudar.
Moça: É! Mas faltou economia.
(A risadinha aumentou)
Não gostei de Psicologia. Só falavam dos outros.
Rapaz: Mas Psicologia ajuda outra pessoa mesmo.
Moça: Quem quer ajuda sou eu. Ah, não era pra mim.
Rapaz: Faz parte. E agora vai cursar o quê?
Moça: Casamento.
Rapaz: Ãnnnnnnn
Moça: Aproveitou a Black Friday?
Rapaz: Economizei.
Moça: Eu comprei um monte de coisas. Vou descer. Adorei te ver Bruno. Tchau. Aparece um dia lá na loja.
Rapaz: Vou sim. Tchau. Não vai passar numa Americanas, hein.
Até eu ri num riso "monalisástico" e desci também. E ainda vi a mocinha entrando numa loja de maquiagem.

Conversas do cotidiano - Coringa equivocado


Coringa equivocado
Duas mulheres maduras: as duas com cabelos com tintura de cabelo à base de troca. Cachos loiros, pretos lisos. E a mistura de vozes no coletivo parecia uma fanfarra daquelas antigas na rua do bairro num ronc-ronc tradicional.
Lisos: Hoje eu não tomei o meu remédio para a pressão. Estou sacudindo.
Cachos: Nossa senhora. Quem tem essa coisa não é de Deus. E está se alastrando. Todo dia eu vejo no noticiário. Eu, hein, Deus me defenda.
Lisos: É triste. Mas se tomar o remédio direitinho a gente acostuma.
Cachos: É? Sei não viu. Tem gente que se mata, mata outra pessoa, até morre! Aquele filme do Coringa fala sobre isso. Você viu?
Lisos: Ai minha canela! (Para um rapaz marombadinho que raspou a mochila nas pernas dela e nem percebeu). Eu não sabia que o Coringa falava sobre isso. Eu não vi. Nossa, doeu!
Cachos: Esses caras fazem academia só pra chutar a gente. Brutamontes! Fala sim, ele matou a própria mãe, vivia rindo, e deu um tiro num apresentador de televisão ao vivo.
Lisos: Que horror! Mas a pressão causa isso? Ai menina, eu não quero matar ninguém!
Cachos: Não é pressão, falei depressão.
Lisos: Ah!
Cachos: Acho que confundi tudo. Você tem pressão ou depressão?
Lisos: Estava achando esquisito. Não tenho depressão, tenho pressão alta. Depressão é muito mais sério Ilka. Eu acompanho meu marido com depressão há anos. Depois que ficou sem emprego, daí piorou
Ele faz tratamento. Nossa, o Coringa é depressivo? Pensei que ele tinha pressão alta, que tomava sinvastatina.
Cachos: Rerere. Desculpa Lúcia, me borrei toda. Confundi. Foi aquele idiota que atropelou você. Eu acho que o Coringa tem depressão.
Lisos: Tem nada. É filme.
Cachos: Ah, é mesmo.
.....
Lisos: Gostei da cor do seu cabelo. Qual é a marca?
Cachos: Eu vi naquele programa que dá roupa para as pessoas. Como é mesmo o nome? Aquele, daquele cara que se veste mal e fala de se vestir bem. Gosto dele. Ai cabeça.
Lisos: Não sei.
Cachos: Aquele antes do programa de fazer bolo, à noite. .. lembrei: Esquadrão da moda.
Lisos: Ah, sei.
Cachos: O rapaz usou uma tintura na moça , eu gostei e comprei. Ficou bom?
Lisos: Esquadrão não é um bando de ladrão junto? Cada nome viu.
Cachos: Não! Esquadrilha que é.
Lisos: Esquadrilha é um monte de avião que joga fumaça no céu.
Cachos: Verdade.
Lisos: Um bando de ladrão junto é o governo. Rereré.
Cachos: Tá chegando minha estação. Tchau. Não esquece de tomar o remédio.
Lisos: Não vou esquecer. Até amanhã.
Cachos: Até.


Ps. Depressão é assunto sério.
Pressão alta é assunto sério.
Não há opinião aqui, só ilustrando uma conversa.

Poesia minha: Herói de porra nenhuma

Herói de porra nenhuma
Se faz de rico
Porém, a pobreza
Está na alma
E não no "decor".
Canta a presença
E vive solidão
Que isso não seja ingrato
E nem pura soberba.
Atira pedras
E
Conta pedras
No íntimo ser.
E no social
É valente
Imperador até.
Pra quê?
Pra se satisfazer.
E só.
Só!
Somente só.
Solitário não.
Só!

Crônicas no olhar - Noite de Outono

Noite de Outono
Era cedo. Madrugada. Quase dia.
Nocauteado por uma canção que dissertava sob a fábula do amor entre um beija-flor e uma flor em pleno frio de Outono, Jonas dirigia a pouca quilometragem do seu maior parceiro - seu carro. Não pensava em nada além do amor.
De longe avista um grupo de rapazes; alguns muito alegres de bebida na veia; seguiam em direção norte com latas de cerveja na mão, calças largas e ideias, talvez!
Jonas, após papear com São Miguel em fé, passou por eles e percebeu um senhor sentado na parada de ônibus logo adiante.
Pensou com seus muitos "eus" em proteger o senhor. Seria ele alvo dos garotos? Ofereceu carona, a qual foi aceita.
Seu nome era Miguel, o mesmo nome do santo.
Jonas se sentiu bem e Miguel agradecido.
Alguns metros à frente, Miguel anunciou o assalto sem constrangimento. E ironizou a boa ação, dizendo que nunca fora tão fácil pegar um otário. Queria dinheiro, relógio, telefone e o que tivesse ali.
Jonas não tinha nem voz. Pálido, nervoso, incapaz. Deu tudo. E teve tempo para relacionar a idade de Miguel à malandragem de assaltante. Se sentiu bobo.
Lembrou da fábula e se sentiu a flor.
Miguel quis o carro.
Jonas disse não. Apanhou.
E no movimento de pancadas e coronhadas, como num balé urbano agressivo, semiótica arte de Guernica ouviu-se gritos!
Sem saber o que bradava , Jonas caído no chão ficou e de Miguel, o "não santo", escutou botas aceleradas que diminuíram em som.
Eram os rapazes, algozes do pensamento de Jonas, que ,agora, o socorriam do malandro senhor.
Viu nos garotos, o beija-flor que ora beijou a flor e que dela se distanciou.
Bateu a chave no contato e respirou. Sangrava o nariz.
E já era dia.
E as flores já sorriam com pétalas repletas de amor aos beija-flores.
E Jonas chorou.
Numa manhã fria de Outono.

Obs.: Baseada na canção Flor e o Beija-Flor, de Henrique e Mariano

Poesia minha - O poço

O poço
Tinha no fundo do poço
Um recado.
Mas ninguém ousou descer
Medo, desculpas,
Não empolgação.

Ninguém viu
Ninguém leu
Ninguém soube
Ninguém ouviu.
Não se importaram

O recado lá adormeceu.
Molhou-se.
Preto de bolor ficou.
E ninguém soube
Que era apenas um pedido.

De ajuda.
Que, como muitos outros,
Ninguém dá a mínima
razão.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Conversas do cotidiano - Parquinho

Parquinho

Do meu carro observo o pequeno parque de diversões da garotada do condomínio. Decerto que tem umas mesinhas onde pequenas grandes pessoas tomam cervejinha, jogam baralho bem ao estilo "viva la famiglia". Não necessariamente, posso arriscar.Já vi de tudo daquela janela particular, sempre quando chego da rua; não fico ali parado espreitando. Ninguém percebe ninguém. Ninguém me percebe ali. Acham que é, somente, um vivo cemitério de automóveis.Uma jovem mãe com seu celular acompanha a filha. Senta-se com seu shorts quadriculado com bolsinho frontal aparecendo e camisetinha cola cola mamãe. A filhota com pequenos olhos lindos, que lampejam à presença estática dos brinquedos, se apodera do espaço e... brinca! Sobe, desce, pula, joga areia, se movimenta.
A mãe, estática ficou, dobrou as pernas, abaixou a cabeça como um guru indiano, ofuscada por alguma coisa em seu Android. De quando em vez, estica uma perna, depois a outra, enquanto a criança some entre as outras crianças. Há gritos de posse e brados de imperador. E silêncio animador causado por informação tecnológica. Acorda!
Mãe - Mirela, Mirela. Onde você tá? (E levanta de supetão, celular vai na areia, a perna manca, o bolso some, gritos) Mirela?
A pequena aparece linda pendurada numa gaiolinha de ferro e diz:
Mirela - Mãe.
Mãe - Mas que porra menina! Por quê você some?
Mirela - Não sumi, tava brincando.
Mãe - Não sai de perto de mim.
Mirela - Mas eu não quero ficar aqui.
......
Mãe - Vai. Vou ficar de olho. (E pega o celular do chão e fixa o olhar, senta, digita, dá uma risadinha, dobra as pernas)
Mirela?
Mirela - Tô aqui. Do seu lado.
Mãe - Boba!
Mirela - Boba é você. (E sai correndo, esbarrando em outra criança emburrada no caminho).
A Mãe dá o sorrisinho e silencia com histórias do celular.
E eu fico pensando que a Mirela estava certa.
Boba é você!
Brincar com cor ação!
Brincar com coração.
A mãe, estática ficou, dobrou as pernas, abaixou a cabeça como um guru indiano, ofuscada por alguma coisa em seu Android. De quando em vez, estica uma perna, depois a outra, enquanto a criança some entre as outras crianças. Há gritos de posse e brados de imperador. E silêncio animador causado por informação tecnológica. Acorda!Mãe - Mirela, Mirela. Onde você tá? (E levanta de supetão, celular vai na areia, a perna manca, o bolso some, gritos) Mirela?A pequena aparece linda pendurada numa gaiolinha de ferro e diz:Mirela - Mãe.Mãe - Mas que porra menina! Por quê você some?Mirela - Não sumi, tava brincando.Mãe - Não sai de perto de mim.Mirela - Mas eu não quero ficar aqui.......Mãe - Vai. Vou ficar de olho. (E pega o celular do chão e fixa o olhar, senta, digita, dá uma risadinha, dobra as pernas)Mirela?Mirela - Tô aqui. Do seu lado.Mãe - Boba!Mirela - Boba é você. (E sai correndo, esbarrando em outra criança emburrada no caminho).A Mãe dá o sorrisinho e silencia com histórias do celular.E eu fico pensando que a Mirela estava certa.Boba é você!Brincar com cor ação!Brincar com coração.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Crônicas no olhar -Tem página arrancada sim

Crônicas no olhar
Tem página arrancada sim.
Eu sou um cara curioso!
Por onde passo, observo tudo, olho roupas, cabelos, combinações, sapatos, escuto e presto atenção em conversas, prédios sempre me atraem e passageiros de carros ou coletivos. São, para mim, oásis num deserto moderno chamado cidade. E tem em todo lugar. Que diacho de oásis múltiplo!
Tenho percebido os diversos livros que, nos coletivos, o "povo" consome. Eu tenho a nítida certeza que muitos escritores se inspiram em películas de cinema para nomear suas obras. Tenho visto assim há um "batalhão" de tempo.
Tem um tal de Motorola, que deve ser algo como Mad Max, cheio de carros e motos em alta velocidade. Tombos e quedas. Daí as motos que rolam. Motorola fica mais cinema! Título. Assim: "Motorola". Básico.
Samsung deve ser um filme para ganhar o Oscar, quase como aquele dos avatares. Samsung deve ser sobre essa espécie. Será que são azuis? Daí seria plágio. Livro lindo.
LG é inspirado na Marvel. Esse herói deve ser galã; tenho essa impressão.
Vi um certo I phone. Disque M para matar; tenho absoluta certeza sintética.
Esses escritores modernos são valiosos pra xuxu.
Acreditem vocês que, dia desses, um desavisado entrou com um aparelho de telefone celular chamado "O Mahabharata" no coletivo e todo mundo saiu de perto.
Achei que iam desembarcar, mas que nada, estancaram em pontos diversos dentro do coletivo.
Um senhorzinho bonito de jaleco xadrez em verde musgo que estava sentado, balbuciou:
"...ai que saudades eu tenho da Caminho Suave."
E sorriu, mexendo os grisalhos bigodes.

Observações - Liso

Quem nasce pra ser margarina.
Sebo tem.
Seboso é.

Crônicas no olhar - Ode à Plínio II

Crônicas no olhar
Ode à Plínio II
Fui espiar e Tonho dormia com um sorriso estampado por entre o nariz. Estava com as pernas descobertas e talvez sentisse frio. Fui lá e puxei com meus bons dentes e o cobri, mas como sou um pouco desastrado, deixei um pé de fora. Tonho está precisando de meias. Se eu me deparar com um varal esticadinho e cheio de roupas, um par de meias vou procurar. Ele merece!
Amo Tonho como se fôssemos parte um do outro. Sabe aquela costelinha? Ele me protege, me abraça, conversa comigo, me afaga, me dá de beber e sempre algo pra comer. Às vezes, e muitas vezes, me dão de comer no mundo. Acho que devo ser bonitinho. Ou engraçado. Sei lá!
Ele está sorrindo mais agora. Acho que sonha.
Escuto vozes do lado de fora das tábuas. Papaizão deve já estar tomando um bolinha de pinga. Ah, eu não sei pronunciar o nome daquilo. Alguma coisa "tinha". Papaizão não é viciado, não fica bêbado e nem cai por aí afora. Tenho por mim que ele bebe para enfrentar a vida. Na Balalaika, a carroça, sempre tem uma bolinha lá. Quando acaba a bebida ele lava e me dá para jogar ou afiar meus caninos. Depois ele vende. Ah , e ele ama demais o Tonho. É tão bonito. Nós três. Somos uma família doriana que não tem margarina.
Papaizão fala sozinho.
Mas acho que ele fala com a mãe de Tonho, que eu não conheci. Ele sempre chora. Eu vou lá e ele me agradece as lambidas.
Hoje eu sou o guardião do café da manhã do meu amigo. Tem um pão aqui enrolado num saquinho rosa desses de feira. E um suco amarelo em cima do outro caixote.
Por um instante eu coxilei e acordei:
_ Tó um pedaçinho Paco.
_ Abocanhei sorrindo que eu já estava com um ronquinho aqui ó.
Tonho me deu um beijo e um afago e comeu.
Tinha uma carinha de desamparo. Acho que ele queria ir pra escola.
Papaizão nos chamou com a Balalaika já pronta, ele sorriu, nos chamou, abraçou Tonho e disse.
_Hoje já garantimos o almoço. Vamos para a janta?
E fomos.
Vejo uma sombra com dois reis e um príncipe de rabo.
Parece até um sonho.
Mas não é não.

Observações - Mestres e cia.

Tenho comigo as lembranças e os ensinamentos dos meus melhores parceiros: meus professores.
Com muitos, incentivos tive.
Com diversos , aprendi a ter discernimento.
Com alguns, sorri gostoso.
Com vários tive medo, amor e amizade.
Com poucos, aprendi a não fazer igual.
E todos foram importantes para mim.

Crônicas no olhar - Ode à Plínio I

Crônicas no olhar
Ode à Plínio I



Tonho acordou numa cama enorme, com colchas felpudas e quentes, o travesseiro era desses grandões, que você abraça como uma mamãe acalentando o sono.

Seus lindos olhos jabuticaba enxergavam o sol entrando pelas frestas da grande janela com cortinas limpas, como se fossem raios espaciais de filmes de marcianos. Na mesinha frutas, pão, leite e Toddy. Tinha Danone também. Tinha cheiro de mamãe no ar. Mamãe galinha!
"Mamãe, a senhora tá tão bonita! Estou sem frio hoje. Parece que meus pés estão num forninho com essas meias. Tão lindas as meias do Mickey. Que pijama bom. Estou até com vontade de sorrir. Bom dia!
Tonho levantou, um tapete emborrachado recebeu os pezinhos à la Mickey e foi para o banheiro. A vontade de fazer xixi era dolorida e seus dentinhos clamavam por uma escovinha macia. Água morna também. Tonho, por um momento, teve uma nevralgia dental mental. Descarga!
Comeu e saboreou todos os alimentos sem pudor, como, na cabeça dele com seus 7 anos, toda criança deveria fazer. Espreguiçou!
Foi até a janela e observou o horizonte azulzinho, ilustrando a imensidão e a generosidade de um mundo bastante grande. Virou e pediu um abraço à sua mãe. Apertadinho!
Abraço dado, ele se deitou novamente, com um sorriso gostoso no rosto.
_Acorda Tonho! - uma voz grave.
Seus olhos pretos se abriram e sentiu frio. Não havia Mickey. Não haviam meias, cobertor felpudo, cama ou horizonte.
Na mesa farta, um pãozinho amanhecido num saquinho colorido, não tinha leite, nem Toddy, nem mamãe. Nem mesa tinha, o saquinho repousava no chão ao lado de Paco, seu cão.
Um guardião do pão!
_ Sonhou de novo filho?
_ Sonhei pai, só isso!
_ Como foi?
_ Uma mentira. Paco, "tó" um pedacinho. Onde vamos hoje?
_ Tentar viver, filho!
E na carroça de carcaça de geladeira, papelões para o almoço.
No horizonte, a sombra de três. Um com rabo e dois sem.

Conversas do cotidiano - Onde?

Conversas do cotidiano
Onde?


A avenida Paulista em São Paulo é um marco da capital. Recheada de locais para se comer, comprar, passear, andar. Mobilidade tem pra todo tipo: patinete, metrô, taxi, tênis, bicicletas amarelas ou não, ônibus. E a diversidade nem se fala. Entre ternos e bermudas, há música no ar; entre prédios e esquinas, faróis; entre Homens, incertezas e certezas.
Sentei-me num canteiro próximo a Rua Augusta para observar visto que esse é um dos meus maiores entretenimentos depois que abandonei os fones de ouvido.
Ao meu lado, em pé, um rapaz bonitinho, com uma camisa xadrez azul, barbinha rala, estufadinho, com jeans passado e vincado conversa com uma garota moderna aparentemente, cabelos rosados com um tintura que não pegou o cabelo todo, piercing no nariz, sem batom, sobrancelhas feias, um macaquinho esquisito.
Rapaz - Ah, não quero almoçar lá porque vai estar todo mundo do escritório. Não sei. O que você acha?
Moça - Qualquer lugar que eu estou é com fome.
Rapaz - Eu também. Chega até dói. Mas aguentar as piadinhas do Ricardo nem pensar. Quero paz!
Moça- Rereré.
Uma senhora se aproxima, batom vermelho sangrento, vestindo blusa e calças bem cortadas, simpática.
Senhora - Por favor, onde fica o Center Norte?
Rapaz - Ali do outro lado, naquele lugar fica o Center 3. Não é Center 3?
Moça - (sorrisinho)
Senhora - Ah, é verdade. Center Norte é na zona leste.
Moça - Zona Norte!
Rapaz - Rereré.
Senhora - Ai, é verdade. Eu trabalhei aqui, mas já faz tempo, está tudo mudado. Um monte de gente, uns cabelos coloridos, homens de mãos dadas, quanto camelô, estou até perdida.
Moça (percebendo que seu cabelo era rosa) - É....
Rapaz - A senhora pode atravessar por ali, atrás da banca de jornal.
Senhora - Banca de jornal nada. É um supermercado. Vende até azulejo. Ah, muito obrigado viu.
E saiu elegante com sua bolsinha caramelo.
Moça - Vamos no "meque" então.
Rapaz - Melhor que as piadas do Ricardo. Bora.
Um senhor se aproxima de mim e pergunta:
Senhor - Por favor, onde fica a Oscar Porto?
Eu - Oi?
Senhor - A Oscar Porto. A rua.
Eu - Oscar Freire?
Senhor - Isso. Confundi.
Eu - Muita gente né? Desce por aqui.
Senhor - Muito obrigado.
(E ele foi pelo lado oposto que falei).
Eu fiquei pensando - Alice no país das Maravilhas é fichinha.
Que dia lindo!

Recortes da vida - abundada

Pelas lentes embaçadas por um suor dançante, a mulher enxerga o trem ao longe. Logo um surto intermediário entre o cérebro e a respiração a acelera. Ela corre. Nos braços gordos, sacolas verdes de plástico do Armarinhos Fernando. Imensas e cheias de sei lá o quê , coisas que se compra e não se mede o preço e nem o tamanho. E nem a necessidade.

Arfando, esbarra as sacolas numa senhorinha de saias longas que caminha desavisada, a qual chama Jesus; um jovem cabeludo observa e ri silenciosamente. O trem já está maior ao olhar quando ela chega nas escadas. Escolhe a rolante porém, caminha sobre ela esbarrando e bufando para uma mocinha arrumadinha, bonitinha, de rosinha, encalculada numa conversinha bizarrinha no seu celularzinho com capinha da Betty Boop. Sinal para as portas fecharem soa como um sopapo para a mulher. Ela acelera, uma sacola rasga, enxerga-se um monte de pessoas na porta e a poucos passos dá um rompante de 180 graus e uma severa bundada com polegadas Marta Rocha adentra o vagão, sem antes atingir um homem lendo um livro de auto ajuda, em cheio no pinto. "Tomates verdes fritos". O homem resmunga, fecha o livro e curte sua dor.

A porta se fecha e a mulher procura um cúmplice pelo desmanzelo. Ela transpira e molha a testa. Está plena!

Um grito e do lado de fora o cabeludo segura algo. Separando eles, uma porta fechada e o movimento.

"_ Ah, o carrinho do meu neto."
Fiquei comovido, eu acho!

Sem antes perceber que o carrinho era do tamanho da minha perna.

Observações - Calhordice

Se finge que não me conhece,
Tenho certeza que é embrulho e não presente.
Se finge que não me conhece.
Tenho certeza que não é presente, é embrulho.

Observações - Coach

O que você faz da vida?
- coach nenhuma!

Crônicas no olhar - Memórias

Crônicas no olhar
Memórias
Um dia criança fui, adolescente fui, adulto sou, orgulhoso serei: da memória que me preenche a prancheta desta simples cabeça.
Aos sábados pela manhã de kichute amarrado na canela sem meia, com um short curto, bermuda nem pensar, ia até o campinho de futebol improvisado numa praça rala de grama, bater um bolinha, quase um futebol. Quem perdia, tinha o ônus de pagar a bateria de 4 ou 5 garrafas de tubaina ou laranjada de garrafa escura para todos os jogadores - suados, felizes e encantados com o sabor tão gostoso do simples refrigerante. No balcão do boteco tinham ovos coloridos numa estufa: amarelos ou rosas? Será que era a mesma técnica usada para os carneirinhos de fotografia em suas carrocinhas cafonas? Falando em carrocinhas, escondiamos os cachorros quando aquela porcaria adentrava o bairro. Até pedra eu já joguei. Uma cor bege horrorosa, nunca saiu da minha memória os cachorros se debatendo presos pelo pescoço. Que horror!
À tarde, depois do almoço em pratos "pirex"ou de alumínio, saborosos, íamos estecar as bolinhas de gude multicoloridas e as maiores eram simbologia de troféus. Ou o pião de madeira rodando com a fieira esticada. Ou a capucheta de jornal notícias populares falando do bebê diabo ou do homem grávido. Esses também poderiam virar "galinha choca" quando tinha fogueira na rua. Uma espécie de mini balão amassado. Encantador! Ah, e tinha bate-bag, io-io da Coca-cola, álbum de figurinhas de chapinha ou papel ou mesmo do chiclete Ping Pong com os jogadores da copa do mundo. E os chicletes Ploc, bala banda, bala de leite kids, bala Soft, todas no baleiro redondo da venda. Onde expostos ficavam suspiros coloridos, tetas de nega, gibis, biriba, bananas de copinho. O homem do quebra-queixo passava no final da tarde, mas nem sempre tínhamos dinheiro para comprar. Na venda ainda tinha Gini, Crush, Pepsi e Seven-up. Ou coca cola de garrafa pequena.
Na televisão em tubo, às vezes podia ser colorido, mas nem sempre,desfilavam os personagens do Sítio do Pica pau amarelo com suas histórias tão ricas, folclóricas, Caco e os Muppets, os filmes de ação, como Perdidos no espaço, o Elo perdido, Os pioneiros, Daniel Boone, entre muitos.
Na escola cantava-se o Hino Nacional com mão no peito ou ao lado do corpo, vigiados pelo bedel. A gente sabia o hino de cor. Tinha aula de religião, estudos sociais, moral e cívica, medo da professora e paquerinhas encruadas e divisão da lancheira. Educação física com short azul para os meninos e saia branca para as meninas. Só para diferenciar, não para julgar.
Fiquei fortinho tomando calcigenol e biotônico Fontoura e curei febres com Melhoral. Para vermes - Ascaridil.
O tempo e a memória passam mas muita coisa fica.
Outro dia lembrei que no meu primeiro beijo deu um frisante na boca. Não suei. Nem sei o que senti. Se tivesse um Dipn'lik ali, naquele instante, eu tinha molhado o pirulito no pozinho para me safar.
Mas não tinha.
Bendita seja a memória que alimenta o saber.
Hoje beijo e quero mais!

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crônicas no olhar - Avaliação

Crônicas no olhar
Avaliação
Juan sempre se achou o cara perfeito. Quase bonito, bem vestido, pele boa, sorriso pôr do sol, falava bem.
Solteiro por opção, despistou muitos corações acelerados de mocinhas erroneamente apaixonadas. Não era sua praia se amarrar.
Tinha muitas curtidas nas suas redes sociais, em fotos produzidas para encantar, as postagens tinham até cheiro para quem deslizava seus dedinhos sobre elas.
Juan se achava o cara!
Maria se achava feia. Dentro das suas conquistas, nada lhe agradava. Não teve sorte no coração, poucos sorrisos, suas roupas vinham num cinza outonal. Maquiagem nem pensar. Vivia a dirigir seu Ford Ka, cinza, na profissão que pôde exercer depois da demissão do escritório de engenharia: motorista de aplicativo. Falava pouco mesmo. Escondia-se. Tinha imenso pavor à avaliação de sua profissão. Uma estrela em 4 a fazia chorar. Copiosamente. E então, comia.
E naquela tarde chuvosa o encontro anunciado por um sentido milimetricamente desmantelado aconteceu. Juan e Maria estavam sob o mesmo teto metalizado e o silêncio era rei. Ele a olhava e pensava o quão desastrada ela era, não tinha nem voz, cabelão. E ela desprezava sua camisa com cavalinho lateral e cabelo coladinho.
A conversa foi pequenina, em sílabas. As inquietações foram enormes, construções.
No rádio tocava uma música americana com gritos exagerados, desenhando como um risco de eletrocardiograma, duas vidas distantes. Um farol em três fases ilustrava uma distância. Chovia. Havia educação, não havia comunhão.
A música acabou e cedeu lugar à falação de algum radialista canastrão.
Juan sentiu um comichão no peito e Maria queria pressa.
Batendo a porta com força, Juan desceu com sapatos de camurça azul marinho tocando o chão e Maria agradeceu sem encarar.
Recebeu três estrelas de avaliação e chorou. Chorou. Não quis compreender.
E comeu.
Um romance.

Observações - Pulga

Uma pulga no cobertor nos faz perceber o tamanho da cama.

Conversas do cotidiano - Equívocos

Conversas do cotidiano
Equívocos
Duas moçoilas, bonitas, com mochilas encrustadas nas costas largas, dessas que riem de qualquer coisa com uma risadinha assim meio tapioca sem recheio, são felizes sem nada dever à alguém.
Amigas, conversam enquanto caminham à passos curtos em direção ao trem metropolitano dessa megalópole chamada São Paulo e carinhosamente apelidada de Paulicéia desvairada de mil e uma expressões.
Moça 1 - Menina, sabe aquele "all star" vermelho que eu tenho? Menina, acho que ele quer me suicidar. Acredita que sexta-feira eu caí quatro vezes com ele?
Moça 2 - Mentira!
Moça 1 - Sério! Não sei como não morri. Foi na balada. Acho que ele já está velho.
Moça 2 - Macumba! Só pode ser. Sexta-feira, vermelho. Sei não
Aí tem!
Moça 1 - Credo! Nem pensei nisso, mas faz sentido. Achei tão estranho porque eu não caio.
Moça 2 - (risadinha) Eu caio sempre. Sou desengonçada mesmo.(sem perceber que a mochila estava na cara de uma ruivinha de fone de ouvido atrás dela e que achava a mochila na cara normal)
Moça 1 - Mas quem faria macumba pra mim?
Moça 2 - As inimigas, "miga". Eu fico esperta.
Moça 1 - (um silêncio pensativo) Você viu o show do Bon Jovi?
Moça 2 - E eu ia perder? Nunca. Me acabei. Cheguei morta em casa.
Moça 1 - Você gosta, né ?
Moça 2 - Adoro. Ah, que fila demorada. Todo dia essa bosta.
Moça 1 - Relaxa. (Silêncio)
Acho que vou jogar fora?
Moça 2 - O quê?
Moça 1 - O "All Star".
Moça 2 - Compra outro. "All star" é vida.
E a fila andou e nos perdemos na multidão. Ainda deu tempo de ver a ruivinha ajeitando os fones de ouvido. Não eram "Bluetooth".

Conversas do cotidiano - Hora do Almoço

Conversas do cotidiano
Hora do almoço
Eu, solitário na minha sala de terapia corporal, dou vazão ao meu sentido de escuta. Como eu já não gosto de escutar...
Ao lado fica uma turma de pessoas, entre homens e mulheres, uns jovens e outros nem tanto. Falam de tudo o tempo inteiro, mas o que mais chama a audácia do escritório é que falam muito de comer - um dos sete pecados capitais? Ou não....
De vez em vez, escuto "pérolas".
Voz 1 - Ah, onde vamos hoje? Comer.
Voz 2 - Tô com gana de comer ave.
Voz 3 - Ai ai, não consigo encontrar o e-mail?
Voz 1 - Ah não, se eu comer pato eu choro. Vou pensar nele e não vou aguentar.
Vozes ao fundo - /@/@^#_#^#*
Voz 4 - Sério Solange? Mas você come frango.
Voz 2 - E muito. Pratão.
Voz 3 - Achei!
Voz 1 - Frango é diferente.
Vozes ao fundo - €%÷€÷£$;
Voz 2 - Tá! Então vamos mudar o bicho.
Voz 4 - Diferente onde? Tem asas e bicos.
Voz 1 - Achou? Onde vamos?
Voz 3 - Achei o e-mail do Otávio.
Vozes ao fundo - $@=×/÷_
Voz 1 - Que tal chuleta?
Voz 4 - Você não vai chorar né?
Voz 1 - Não! Adoro carne de boi.
Voz 3 - Gente, o Otávio não me mandou a porra do cronograma.
Vozes ao fundo - #&÷€=£$; $
Voz 4 - Você é descarada mesmo. Fala que chora com o pato mas mata o boi.
Voz 1 - Não mato ninguém. Só vou comer.
Voz 2 - Pare para pensar: Se você come carne, você não combate a morte do boi.
Vozes ao fundo: ×€÷/@€+
Voz 1 - Gente, baixou o Cortella. Pára. Só quero almoçar.
Voz 3 - Otávio filho de uma figa.
Voz 2 - Eu também.
Voz 4 - Eu também.
Voz 3 - Eu trouxe comida. Frango.
Vozes ao fundo- *(*((*&÷^#£×&$₩÷&÷^÷£÷^@&÷£÷;#(×*÷¥÷(×)÷¥
E foi se fazendo um silêncio com o abafar dos saltos altos e andares desmiolados.
E eu também fui almoçar. Não era pato. Era vagem!

Conversas do cotidiano - Tempo

Conversas do cotidiano
Tempo
Apoiado no "pole dance" matinal, escuto, atrás de mim, um sotaque nordestino com erros medonhos de português, vindo de uma conversa de um homem e uma mulher.
Homem - Ele estava lá, parado como sempre.
Mulher - 62 anos ele vai fazer. Eu quando vou no "shop", desço no Campo Limpo não no Capão. Não vou nesse "shop"."Shop" ruim, não tem nada.
Homem - Hum Hum
Mulher - Ele não sai da "ara". Fica lá com aquele "relójo" "véio", "fédorento", "pequenino". "Se" vai "comprá" um "relójo" novo pra ele?
Homem - Quero.
Mulher - Tem uns "grandi". 200 real! No "Shop" tem. Bem bonitão. Ó.
Homem - Qual shopping?
Mulher - Campo Limpo.
Homem - Tu não disse que lá não tem nada?
Mulher - Eta diacho, que calor da peste. Relójo tem. Você entra, aí vira, sobe a escada, escada estreita, feia, vira e vai pra frente, fica lá no fundo, perto de uma loja.
Homem - Hum hum
Neste momento, fui despertado por uma mulher que descobrira o cadarço do seu tênis desamarrado e queria amarrar no meio do metrô cheio. Gritava:
- Desgraça, desgraça.
Ps: Não gosto dessa palavra. E que fique claro, que não estou caçoando de ninguém por falar errado. É só a vida como ela é naquele momento.

Crônicas no olhar - Aniversário

Aniversário

Desde muito cedo, ele não entendia nada sobre fazer aniversário. Também pudera! As condições financeiras não davam para festas ou grandes comemorações com bolo, balão e brigadeiros. Nem sorrisos de pupilos pulando ao som de músicas...infantis.
As comemorações desse tipo só eram conhecidas quando amigos o convidava. Daí os pequenos olhos pretos viravam jabuticabas suculentas frente ao banquete simples e colorido.
Veio a adolescência e o entendimento sobre a vida foi se fortalecendo. As festas ainda não eram presentes, mas a essência da data de se fazer aniversário era mais clara. Já se comia, bolo e brigadeiro, mas os balões... Não eram ainda necessários.

Ele se divertia sorrindo e comendo bolo "Pullman", aquele com a faquinha para cortar. Sabor laranja.
Um dia, combinou com amigos do colégio uma festa noturna numa "danceteria! para brindar e celebrar. Seus olhos se encheram de ternura e felicidade, afinal amigos e uma comemoração seria ideal para celebrar o tal aniversário. Talvez teriam balões. Não! Não teve. Não foi ninguém.
Adulto, envolvido em mil situações, o pensamento desastroso acerca dos balões, bolos e afins, deu espaço para ombros chacoalhando em lateral e simultâneos. Ah, os fortalecidos ombros, vizinho do escudeiro trapézio, protetor do esterno - o berço do coração. E agora até sorria mais das mazelas de datas importantes. "Importante é toda data" virou mantra.
Mas percebeu que o dia de aniversário é um celebrar, um celebrar da vida.
Pode ter bolo, balões, brigadeiro, salgadinhos e balas brancas de coco envolvidos e papel com cabelinhos. Pode ter chapéu com elástico, refrigerante, língua de sogra e palmas efusivas. Pode ter presença, cor, música, fervor.
Ou nada disso...
Só lembranças...
E sua existência.

Observações - O assassinato da língua

Observações 
O assassinato da língua

"Miga, o meu Crush é um boy stylist. Não tô mais na bad."
Tradução:
"Amiga, o meu paquera é um gato. Não estou mais triste.
Assassinaram o camarão!
Digo, a língua portuguesa.

Crônicas no olhar - Efeitos

Efeitos

Joana era um exemplo!
Um exemplo que ela mesma criou. Desde adolescente aprontava poucas e boas colocando em conflito os amigos, os inimigos ou quem quer que fosse. Não importava. Se Joana achasse que poderia pisar, pisava mesmo sem dor alguma.
Cresceu, aos prantos de muitos.
Estudou, para se prevalecer.
Conseguiu posições nas mais refinadas organizações. Era um ícone. Que ela mesma criou.
Para cada cargo conquistado, pessoas não importavam.
"A supremacia do poder é um oásis que vou ter", resmungava para os poucos que a ouviam na Universidade.
Como toda obstinação, o fato se concretizara: Joana tornou-se diretora de uma multinacional. Temida por muitos por sua capacidade de aniquilar qualquer um a sua frente, não casou, não tinha família (os pais morreram num acidente de avião que invadiu a cidade na hora do "rush"), amigos não existiam, nem gato, cachorro ou papagaio. Ela era única. Que ela mesma criou.
De tanto trabalhar, a estafa chegou e seu corpo alertou - disse o médico desprezado pela exponencial mulher.
Um dia muito quente em Barcelona, sozinha, numa pequena viagem de férias (não é que ela tirou 10 dias), ela queimava de calor, então arrendou, por uma boa quantia, uma latinha de um certo refrigerante. Para refrescar.
Tudo foi ficando cinza, com metade da lata, um desmaio. Aproveitando a ousadia do desmaio, sua bolsa foi capturada por alguém qualquer.
Joana acordou num Hospital em Barcelona sem identidade. Ninguém a conhecia e no seu leito uma etiqueta branca com dizeres em caneta: desconhecida.
Os enfermeiros disseram que ela teve uma crise renal e ela não se lembrava do real nome porque batera a cabeça na queda. Acusou os enfermeiros de roubarem sua bolsa. Ficou nervosa.
Em horas seu coração parou. Na Espanha.
Não havia alguém que a conhecesse.
Não haviam pertences.
Não havia história.
Havia uma história que ela criou.
E acabara.
Ali.

Poesia minha - Papel Higiênico

Papel higiênico
Eu cpmofo
Tu Cpmfazes
Ele cpmf
Nós cpmfudemos
Vós cpmfez
Eles ganham!


Conversas do cotidiano - Quem?

Conversas do cotidiano
Quem?

Estava sentado em uma cadeira de uma festa, eu e Manu, minha dog-parceira, que descansava seu corpo pequeno e desenhado sobre meus braços. Ao meu lado, senta uma mulher (1) em seus quarenta e poucos anos, calculo eu, e uma amiga à tiracolo (2). Essa na mesma faixa etária , mais magra, com uma sapatilha horrorosa no pé que realçava pela calça "legging" curta, um arquinho no cabelo estilo anos 70 "flower power".
Uma moça negra (3) ostentando um sorriso escancarado e encantador se aproxima com um bebê no colo, igualmente lindo.
Mulher 1 - Puta que o pariu. Como ela é linda! (Pegando no meu braço e se direcionando para Mulher 3)
Mulher 3 (fez uma cara que denotava um certo "desconfiar", me olhou e seu olhar confidenciou) - O que ela falou? (Fala silenciosa apenas)
Mulher 1 - Como você pode ser tão bonita?
Mulher 2 (Não sabia se ria ou se comia o que visse pela frente)
Mulher 3 (desconfiando que aquilo fosse uma cantada) - 15 anos com meu marido que está lá dentro.
Mulher 1 - 15 anos? O seu macho tem 15 anos?
Mulher 2 se serviu de uma linguiça do churrasco. Mordeu com cara de Rosemary, a cantora.
(Eu com olhos e ouvidos atentos e Manu grunhiu, o bebê esboçou um chorinho)
Mulher 3 - Isso. Eu tenho 31 e ele 38. 15 anos juntos.
Mulher 1 (aficcionada com a pseudo descoberta imaginária dela) - Caracas você tem um filho de 15 anos?
Mulher 2 riu com a boca escancarada cheia de linguiça, o arquinho jazia para trás, a Rosemary já estava quase uma Janis Joplin; Manu grunhiu de novo. O bebê estava quietinho.
Mulher 3 - Não!! 15 anos de casamento.
Mulher 1 - Ah, entendi. Porque o meu tem 22.
Mulher 3 - O casamento?
Mulher 1 - Não! O meu macho.
Mulher 3 dá uma risadinha, olha pra mim, desconforto, avista uma taça de Chopps e sai em sua direção como uma fuga;
Mulher 1(me achando cúmplice) - Ela é linda!
Mulher 2 limpava a calça curta com mãos engorduradas da linguiça e ria pra si mesmo.
Eu falando baixinho para Manu - Tá dormindo?

Conversas do cotidiano - Casal

Conversas do cotidiano

Casal

Manhã posterior de uma noite chuvosa cheia de percalços na terra da garoa. Como uma procissão de fiéis em busca dos seus tostões, todos seguimos a marcha rumo ao nossos Olimpos. Quer dizer...
Entra um casal, supostamente casados; denuncia uma grossa aliança dourada nos dedos quase bonitos da mão esquerda de ambos. Um presente de algum dos pais. Pode ser.
Lado a lado, eles se posicionam à minha frente
Lembrei de uma tela de cinema ou um palco italiano de teatro.
A trilha sonora é o zum-zum do metrô. A luz aberta, geral. Atmosfera. Ele está todo de preto, um guarda-chuva pequeno na mão, barbudinho, alter ego do carinha da "Trivago", só que mais parrudo e menos vivo. Ela é laquê misturado com um "seda" simples, base no rosto alternando com um batom vermelho e rímel. Roupas estampadas e uma bolsa qualquer.
Como numa partitura exaustivamente ensaiada, eles sacam seus celulares e entram em estado neutro através de séries ou redes sociais.
Ela, com sorriso estilo "Monalisa" - Se chover hoje, passa no escritório.
Ele, sem movimento algum - Mmmmm.
(Silêncio, respiração em todos os lados)
Ela, depois de algum tempo - Essa série é muito boa.
Ele - Mmmmm.
Ela - Você acredita que ontem uma menina tirou os sapatos perto de mim e subiu aquele cheiro de salgadinhos "Elma Chips"?
Ele, sem tirar o guarda-chuva do sovaco e o olhar do Android - Essas coisas só acontecem com você.
Ela - Mmmmmm.
Absorto na cena, lembrei de Ionesco e sua "A cantora careca" e essa tal comunicação e nem percebi que já era meu destino.
Ele - Bom trabalho. (Parecia uma central de atendimento)
Ela - Hã Hã.
Ele desceu e eu atrás dele, em direção aos trens. Ela ficou, sentou-se e achou graça em alguma cena da série, esboçando um sorriso solitário. Ele caminhando de fone no ouvido nem percebeu seu amor sumindo no vagão e um olhar não correspondido.
"Que curioso!"
Voz: Moço que trem eu pego pra Osasco? - simpaticamente, uma guria de rabo de cavalo me indagava.
Eu respondi e segui satisfeito com o teatro da vida real que acabava de assistir e fui...em direção ao Olimpo.
"Tomara, à noitinha, o casal dê um beijinho".

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Conversas do cotidiano - O sabor do ovo

Conversas do cotidiano

Eu não gosto de supermercado, hipermercado, prefiro vendinha, empório.
Não gosto, porém, tenho que ir. Se só fizéssemos as nossas vontades...
Fila de caixa de um atacado, a moça que me atenderia estava de prosa com a outra caixa do lado. Eu ainda estava longe. À medida que ia falando, elas faziam expressões faciais dignas de um vaudeville. Eu observava esperando e à minha frente duas mulheres conversavam:
Mulher 1 - Eu hein, não compro mais ovo em mercado. Não tem gosto. Parece que tá comendo uma bucha de banho.
Mulher 2 - Verdade! Mas é tudo, Tonia. Nada tem sabor mais. Até açúcar tá amargo. Essas duas só ficam dando risadas e a gente aqui. (olha para mim buscando uma cumplicidade)
Mulher 1 - Tem um açúcar que é escuro, parece que é sujo. Esse governo só dá porcaria pro povo.
(Começo a ouvir a conversa das caixas enquanto as mulheres são atendidas. Elas estão animadas e a caixa séria passa as mercadorias e continua conversando com a amiga)
Caixa 1 - "...ela foi mandada embora. Mas ninguém sabe direito o que foi?"
Caixa 2 - Tenho certeza que foi por causa dele. Eles viviam de cochicho.
Caixa 1 - Mas ela vivia dando em cima dele e sabe por quê ele nunca quis?
(As mulheres saem e chega minha vez, coloco minhas coisas na bancada)
Eu - Boa tarde!
(Menção com uma meia boca)
Caixa 1 - CPF? ...Você sabe que ele não gosta de mulher né?
Caixa 2 - Eu sei menina, todo mundo fala. Deve ter separado porque a mulher dele deve ter descoberto.
Caixa 1 - Ele tem uma filha. Mas burra é ela que forçou a barra e agora, ó rua. $ 67.37, senhor. Crédito ou débito?
Eu - Débito.
Caixa 2 - Mulher sempre se ferra.
(Parei para conferir meu celular e mais longe ainda ouvi)
Caixa 1 - Você viu aquelas duas antes do moço? Deus nos defenda, duas sirigaitas.
Caixa 2 - O mundo tá cheio de sirigaita. Nota fiscal Paulista?
.....
Lembrei que os ovos perderam mesmo o sabor e desci a rampa.

Poesia minha - Dança, andorinha boa.

Dança, andorinha boa.

Dance ante o tempo
Aumente sua invasão,
Corpo avante, levante,
Respire, segure soltando.
Salte atento
Repouse lento,
Lentamente salte
Dance redondamente,
Quadradamente,
Voe.
O ar é a energia provocativa
As mãos, os pés, extensão.
O coração sente o toque
A alma faz bonito na reunião
Dos órgãos vitais em comemoração.
Pise, salte, voe
Verbalize.
Movimente-se.
Saboreie o espaço
Desses movimentos,
Sinta!
Agora sorria
No corpo,
Com o corpo.
Corporize-se!

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Observações - Enganação

Cada bife que não passa de hambúrguer do Atacadão.

Crônica no olhar - Song pops

Song pops



Sexta-feira. Mais ou menos 17:00 horas de uma tarde saborosamente fria. Avenida Paulista, uma parte de São Paulo com um charme todo especial e inexplicável. Há toda porção humana lá. E essa diversidade social, intelectual, modal, banal, total, sexual faz uma música boa tocar.


Deixei meu calhambeque no estacionamento e tinha clientes à minha espera. Escuto "Meu sonho era salvar a Paola Oliveira de um assalto e ela se apaixonar por mim. Só queria isso agora".

Achei o máximo o sonho do rapaz e viajei nele. O rapaz era o manobrista do local, bonito, branco, gordo mas nem tanto, vestia uma camisa branca com símbolo da empresa e calças justas, provavelmente pretas. Estava meio largado num banco tipo de "banco de praça reaproveitado". Um charme vintage. Falava para ele mesmo mas se dirigindo ao caixa do estacionamento, um homem magro, de óculos, friorento, pois já usava, naquela hora, sua japona estilizada com o logo da empresa. Tinha no rosto e no tom de voz uma história de amor e uma carreira deixada de lado. Era cortês.

Imaginemos a cena da Paola sendo assaltada e o "Bat Masterson" chegando numa voadora, aturdido pelos gritos assustados da atriz de personagem dúbio na novela das 9. Apavorando os meliantes com seus golpes de porrada e voz forte, a loira, como num filme vencedor do Oscar americano, se encantaria com os olhos pretos marcantes e uma canção de Elvis toca. It's now or never! O amor! Ah, o amor!

Tá realizado o sonho. 

Não. Ainda não! "....se apaixonar por mim." - eu ouvi, soletradamente.
Tem que fazer mais mocinho. Vai! - Eu na torcida.

Paola acordaria do transe do Elvis e agradeceria, meio sem jeito, com aquela beleza que lhe é peculiar. E apertaria a mão do nosso herói.

Nesse momento, o perfume Polo, o verde, tinha que chegar na narina esquerda da mocinha e fazê-la se enroscar em suas palavras. Sabe quando o racional samba com o emocional a mais bela gafieira? Isso aí! Ausência de qualquer sentido.

E se não desse certo? E se ela tivesse alergia ao importado perfume? 
Até o mais sábio diria que a verdade seria o melhor caminho. Nesse caso, nunca!

Imaginemos:

Paola separaria sua mão da dele, agradecendo e querendo dar uma gorjeta pelo ato. Ele negando a gorjeta e, tomando coragem. Se declara. Ela, sorrindo, entra em seu carro e da uma buzinadinha graciosa.

"Olha, eu também te amo. Amo meus fãs." (Era ela que se apaixonaria Bat Masterson! Seu erro, eu observaria.) Tocaria "Mother" do Pink Floyd, o carro iria saindo e, pelo retrovisor, nosso herói chorando por ter perdido a oportunidade de sua vida. Ou....

Nosso herói entraria no estacionamento com o peito cheio estourando na camisa branca, sorriso no rosto e diria para o caixa: "Pegou meu Whatsapp".
O caixa olharia para a cena pelas grades da bilheteria, com um olhar "Siouxie' pensando no seu saquinho de pipoca como jantar. 

Toca Iza e seu "Pesadão" e nosso herói dá um salto. E rasga as calças.

Dei de cara com a barraca dos bolivianos e suas cores em tecidos e filtros de sonhos.
E segui.
Sonhar é de graça!