quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crônicas no olhar - Efeitos

Efeitos

Joana era um exemplo!
Um exemplo que ela mesma criou. Desde adolescente aprontava poucas e boas colocando em conflito os amigos, os inimigos ou quem quer que fosse. Não importava. Se Joana achasse que poderia pisar, pisava mesmo sem dor alguma.
Cresceu, aos prantos de muitos.
Estudou, para se prevalecer.
Conseguiu posições nas mais refinadas organizações. Era um ícone. Que ela mesma criou.
Para cada cargo conquistado, pessoas não importavam.
"A supremacia do poder é um oásis que vou ter", resmungava para os poucos que a ouviam na Universidade.
Como toda obstinação, o fato se concretizara: Joana tornou-se diretora de uma multinacional. Temida por muitos por sua capacidade de aniquilar qualquer um a sua frente, não casou, não tinha família (os pais morreram num acidente de avião que invadiu a cidade na hora do "rush"), amigos não existiam, nem gato, cachorro ou papagaio. Ela era única. Que ela mesma criou.
De tanto trabalhar, a estafa chegou e seu corpo alertou - disse o médico desprezado pela exponencial mulher.
Um dia muito quente em Barcelona, sozinha, numa pequena viagem de férias (não é que ela tirou 10 dias), ela queimava de calor, então arrendou, por uma boa quantia, uma latinha de um certo refrigerante. Para refrescar.
Tudo foi ficando cinza, com metade da lata, um desmaio. Aproveitando a ousadia do desmaio, sua bolsa foi capturada por alguém qualquer.
Joana acordou num Hospital em Barcelona sem identidade. Ninguém a conhecia e no seu leito uma etiqueta branca com dizeres em caneta: desconhecida.
Os enfermeiros disseram que ela teve uma crise renal e ela não se lembrava do real nome porque batera a cabeça na queda. Acusou os enfermeiros de roubarem sua bolsa. Ficou nervosa.
Em horas seu coração parou. Na Espanha.
Não havia alguém que a conhecesse.
Não haviam pertences.
Não havia história.
Havia uma história que ela criou.
E acabara.
Ali.

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