terça-feira, 29 de outubro de 2019

Crônicas no olhar - Memórias

Crônicas no olhar
Memórias
Um dia criança fui, adolescente fui, adulto sou, orgulhoso serei: da memória que me preenche a prancheta desta simples cabeça.
Aos sábados pela manhã de kichute amarrado na canela sem meia, com um short curto, bermuda nem pensar, ia até o campinho de futebol improvisado numa praça rala de grama, bater um bolinha, quase um futebol. Quem perdia, tinha o ônus de pagar a bateria de 4 ou 5 garrafas de tubaina ou laranjada de garrafa escura para todos os jogadores - suados, felizes e encantados com o sabor tão gostoso do simples refrigerante. No balcão do boteco tinham ovos coloridos numa estufa: amarelos ou rosas? Será que era a mesma técnica usada para os carneirinhos de fotografia em suas carrocinhas cafonas? Falando em carrocinhas, escondiamos os cachorros quando aquela porcaria adentrava o bairro. Até pedra eu já joguei. Uma cor bege horrorosa, nunca saiu da minha memória os cachorros se debatendo presos pelo pescoço. Que horror!
À tarde, depois do almoço em pratos "pirex"ou de alumínio, saborosos, íamos estecar as bolinhas de gude multicoloridas e as maiores eram simbologia de troféus. Ou o pião de madeira rodando com a fieira esticada. Ou a capucheta de jornal notícias populares falando do bebê diabo ou do homem grávido. Esses também poderiam virar "galinha choca" quando tinha fogueira na rua. Uma espécie de mini balão amassado. Encantador! Ah, e tinha bate-bag, io-io da Coca-cola, álbum de figurinhas de chapinha ou papel ou mesmo do chiclete Ping Pong com os jogadores da copa do mundo. E os chicletes Ploc, bala banda, bala de leite kids, bala Soft, todas no baleiro redondo da venda. Onde expostos ficavam suspiros coloridos, tetas de nega, gibis, biriba, bananas de copinho. O homem do quebra-queixo passava no final da tarde, mas nem sempre tínhamos dinheiro para comprar. Na venda ainda tinha Gini, Crush, Pepsi e Seven-up. Ou coca cola de garrafa pequena.
Na televisão em tubo, às vezes podia ser colorido, mas nem sempre,desfilavam os personagens do Sítio do Pica pau amarelo com suas histórias tão ricas, folclóricas, Caco e os Muppets, os filmes de ação, como Perdidos no espaço, o Elo perdido, Os pioneiros, Daniel Boone, entre muitos.
Na escola cantava-se o Hino Nacional com mão no peito ou ao lado do corpo, vigiados pelo bedel. A gente sabia o hino de cor. Tinha aula de religião, estudos sociais, moral e cívica, medo da professora e paquerinhas encruadas e divisão da lancheira. Educação física com short azul para os meninos e saia branca para as meninas. Só para diferenciar, não para julgar.
Fiquei fortinho tomando calcigenol e biotônico Fontoura e curei febres com Melhoral. Para vermes - Ascaridil.
O tempo e a memória passam mas muita coisa fica.
Outro dia lembrei que no meu primeiro beijo deu um frisante na boca. Não suei. Nem sei o que senti. Se tivesse um Dipn'lik ali, naquele instante, eu tinha molhado o pirulito no pozinho para me safar.
Mas não tinha.
Bendita seja a memória que alimenta o saber.
Hoje beijo e quero mais!

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