terça-feira, 29 de outubro de 2019

Crônicas no olhar - Ode à Plínio I

Crônicas no olhar
Ode à Plínio I



Tonho acordou numa cama enorme, com colchas felpudas e quentes, o travesseiro era desses grandões, que você abraça como uma mamãe acalentando o sono.

Seus lindos olhos jabuticaba enxergavam o sol entrando pelas frestas da grande janela com cortinas limpas, como se fossem raios espaciais de filmes de marcianos. Na mesinha frutas, pão, leite e Toddy. Tinha Danone também. Tinha cheiro de mamãe no ar. Mamãe galinha!
"Mamãe, a senhora tá tão bonita! Estou sem frio hoje. Parece que meus pés estão num forninho com essas meias. Tão lindas as meias do Mickey. Que pijama bom. Estou até com vontade de sorrir. Bom dia!
Tonho levantou, um tapete emborrachado recebeu os pezinhos à la Mickey e foi para o banheiro. A vontade de fazer xixi era dolorida e seus dentinhos clamavam por uma escovinha macia. Água morna também. Tonho, por um momento, teve uma nevralgia dental mental. Descarga!
Comeu e saboreou todos os alimentos sem pudor, como, na cabeça dele com seus 7 anos, toda criança deveria fazer. Espreguiçou!
Foi até a janela e observou o horizonte azulzinho, ilustrando a imensidão e a generosidade de um mundo bastante grande. Virou e pediu um abraço à sua mãe. Apertadinho!
Abraço dado, ele se deitou novamente, com um sorriso gostoso no rosto.
_Acorda Tonho! - uma voz grave.
Seus olhos pretos se abriram e sentiu frio. Não havia Mickey. Não haviam meias, cobertor felpudo, cama ou horizonte.
Na mesa farta, um pãozinho amanhecido num saquinho colorido, não tinha leite, nem Toddy, nem mamãe. Nem mesa tinha, o saquinho repousava no chão ao lado de Paco, seu cão.
Um guardião do pão!
_ Sonhou de novo filho?
_ Sonhei pai, só isso!
_ Como foi?
_ Uma mentira. Paco, "tó" um pedacinho. Onde vamos hoje?
_ Tentar viver, filho!
E na carroça de carcaça de geladeira, papelões para o almoço.
No horizonte, a sombra de três. Um com rabo e dois sem.

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