domingo, 16 de agosto de 2015

Kultme 21 - Dom ou talento?


Dom ou talento?


hamlet
Muito se fala, nas conversas dos amigos e nas leituras ocasionais que quem nasce com dom, talento tem! “Nasceu para isso!” “Está no sangue” “Reencarnação de Shakespeare!”. São algumas das afirmações que meu ouvido querido já teve a oportunidade de assimilar. Não discordo, mas também não concordo. Estou no meio fio!
Nessa minha pequena estrada que se agiganta cada vez que caminho mais, já vi e presenciei tanto talento descoberto que estava ali adormecido e, em determinado momento do aprendizado, vem à tona. E isso não significa que o jogo está ganho. Determinados talentos não são estendidos à uma vida na arte. Posso ser um Às no Clown e ter uma dificuldade enorme para construir um Woyczek na essência. Isso não pode ser encarado como um não talento. É um não dom! Dom é teu! Talento pode ser construído!
Vejo que a maior armadilha de quem possui um dom é adormecer com ele, não o adubar e nem colorir suas formas. Fica uma coisa marcada, sabida, sem entusiasmo, morna. A televisão, muitas vezes, pela rapidez e pela lucratividade, sem se importar com a arte, leva o ator com dom, a ficar estagnado. Nós, espectadores, até aprendemos a vê-los sem contemplá-los!
Outro dia assisti à um espetáculo teatral que tinha um ótimo ator da telinha. Para minha surpresa era muito chato, igual, repetindo as mesmas piadas que deram certo no início da peça. Pensei comigo: “Cadê a habilidade para trabalhar o dom?” O teatro permite isso. Há tempos não vejo uma novela de cabo a rabo, mas me informo, fico ligado, leio. Como minha mãe assiste novelas, eu escuto do meu quarto algumas novelas enquanto trabalho ou me esparramo na cama. Ouvir está muito melhor do que ver. Não há diálogo bom, não há cor, é um pastel sem recheio. Quando aparece uma pizza, corro para a sala para degustar e fico pensando porque não se faz isso com todo mundo, com todo o elenco? Quem consegue sair disso, faz uso do dom e o recheia com o talento que a experiência dá.
Imagine agora essa situação no palco? Humm…
arteDom todos temos, talentos podemos construir. Para isso que tal utilizar e fazer real bom uso de cinco itens que temos na nossa biblioteca corporal: Visão, audição, tato, olfato e paladar. Alie-se aí uma xícara de estudo, uma colher de sopa de concentração, um copo de amor à profissão e pitadas de intuição para dar gosto. Temos um belo e prazeroso bolo! E o público vai comê-lo com muito bom gosto!

Indicação
  • Livro para ler: Bodas de Sangue, de Federico García Lorca
bodasBodas de Sangue é uma peça de teatro do espanhol Federico García Lorca (1898 – 1936), pertencente à trilogia formada por Yerma e A Casa de Bernarda Alba. Trata da história da Noiva que vive isolada com seu Pai. No dia das bodas, aparece Leonardo, ex-namorado da noiva, que decide seduzi-la e relembra-la do passado. Em meio à cerimônia do casamento, a noiva e Leonardo fogem, e desencadeiam uma série de perseguições pelo deserto espanhol.Na obra, García Lorca também explora a possibilidade do irreal. Lua e Morte ganham vida e, mais que isso, participam do desenrolar da trama, auxiliando a luta ritualística entre o Noivo e Leonardo.

Poesia minha - Esconde-esconde

Esconde-esconde

Falaram para mim que a felicidade estava no pé do arco-íris
Falaram para mim que o amor está ligado ao coração
Falaram para mim que o barulho do silêncio é o mais barulhento
Falaram para mim, acreditar sempre
Falei para mim que o arco-íris é um mistério
Falei para mim que o coração esbanja amor e ódio também
Falei para mim que o silêncio é o meu encontro
Falei para mim, acreditar quase sempre
Falou que o mistério é insegurança
Falou que o ódio é manifestação do demônio
Falou que o silêncio é não querer expor-se
Falou que fé e acreditar são coisas iguais
Falou não tem sujeito, suspeito!
Falar é preciso!
Sorrir é necessário.
Chorar é equilíbrio!
Abraçar é compartilhar
Sujeito não é fantasia, é ação
Para aumentarmos a chance de amar
E utilizar o coração!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Kultme 20 - Lá vem o palco, palco aqui, palco acolá!


Lá vem o palco, palco aqui, palco acolá!


Empty Stage
O palco é o maior parceiro do ator. Seja onde for, o palco está lá, sob os nossos pés, no horizonte do nosso olhar. Palco vazio é poético demais, palco cheio é fantástico demais, palco iluminado é artístico demais, palco lotado é obra de arte, palco descoberto é iluminado pelos céus. Palco é palco, o resto é silêncio!
Entreatos
Nasci vazio
Não espero sentado, espero deitado
Grandes e longos vestidos pretos, às vezes não
Consigo enxergar de onde estou
Eles abrem passagens para muitas personas
Em cima de mim,
Globo, varas, holofotes e gelatina. Bambolina?
Alguém pisa em mim
E eu adoro, nada de sadomasô
É amor!
Alguém molha-me
Eu enxugo, me lambuzo, não tem dor!
Nasci caminhando com a liberdade
De mãos dadas com a vida e com a morte
Histórias ilustram a minha verdade
Em cima de mim, mil emoções
Choros, risos, medos, esperas
Angústias, brancos, coisas boas, coisas ruins
Nada me abala, eu amparo!
Também, na maioria das vezes, sou de madeira, deveras!
Quando de concreto, sou forte!
Quando de madeira, sou fera!
Ah, eu escuto músicas
Batimentos cardíacos
Falas minúsculas
Respiração respiração respiração
Palavrão!
Ah, eu escuto tudo….
Eu também recebo peso
Quando me transformam, fico feliz
Parece que vou à uma festa
É cor, é luz, pessoas e ator, atriz.
Iluminado, decorado, ouço sussurros de olhares abobados
Da plateia.
No escuro adormeço
Para o próximo espetáculo!
Me chamo palco, amigo do proscênio e filho do teatro.
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Indicação
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  • Livro para ler: Boca de Ouro, de Nelson Rodriguesboca de ouro
Boca de Ouro o bicheiro “boca amarela”. O homem da dentadura de ouro, quando muda de vida, carrega o poder na boca. Quando Boca é assassinado, seu passado é vasculhado por um repórter de um jornal e Dona Guigui, ex amante do bicheiro, revelando versões distintas de uma mesma história.
Ps.: Quando assisti ao espetáculo “Boca de Ouro” do Zé Celso Martinez Correa no Oficina há muito tempo atrás, como uma lembrança viva, a cena do nascimento de Boca de Ouro na gafieira é um primor no uso do palco, que alías, é uma sensação no Teatro Oficina em São Paulo. Não deixem de conhecer!

Poesia minha - Aparelho celular



Aparelho celular


Outro dia ouvi no silêncio barulhento de conversas de celular
Um sarcástico sorriso no transcorrer da lotação
De cheia, lotada, ao cheiro do fim do dia, a volta ao lar
Imaginei o sarcasmo voraz no rosto talvez inocente de um cidadão

Deve estar aprontando alguma arte de arteiro
Ninguém percebeu, só eu, curiosidade de homem
homem artista, homem humano, será?
Penso, logo existo. Eu e o celular, grande homem!

Que tirou a minha gostosa sensação de falar
Observar os olhos, os cabelos, os movimentos do rosto
As intenções das palavras, o movimento indicador dos dedos
Grande gosto deposto.

Mas, cuidado, celular não é uma arma!
Alento à alma para uns
Maquininha de relação para outros
Para mim uma ponte de comunicação
Que não apaga a alma.

E a lotação foi se esvaziando
Fui ficando sozinho como quando estava
Quando lotado o transporte passeava
E ninguém se olhava!