quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Critica: Nosso Oz é mágico

São Paulo, Agosto/2016

Nosso Oz é mágico

Grupo Tapanaraca Mutatis Mutandis – Itapetininga-SP

Num mundo “tecnologicozicado” como o de hoje, assistir a um espetáculo onde crianças usam a imaginação às maiores ousadias, dentro da casa da vovó, interpretada pela figura bem bacana de Paula Coelho, é um primor.

As crianças, livres de qualquer estereótipo, fazem, em forma de brincadeiras, uma viagem à obra de L Frank Ball – O Mágico de Oz.

Recheada com todos os predicados de uma obra rápida, de fácil entendimento, com truques cênicos delicadamente elaborados pelas mãos de Fábio Jurera, o diretor apaixonante e apaixonado pela arte, preenche os espaços do palco – a casa da vovó – com todos os personagens da obra original, com bruxas, mágico e claro, a Doroty!

Os atores, todos muito competentes, jogam muito bem entre eles, dentro de confortáveis e elegantes figurinos. Sempre gosto de ator por vocação. E nessa montagem isso fica muito claro. Há uma ajuda em prol do melhor de Oz. Há uma química! Puro deleite!

As transições entre o real e o imaginário povoaram minha imaginação de ótimas lembranças infantis e fiquei pensando nesse espetáculo como um grande musical. Ah, deixa pra lá! Prefiro assim mesmo – na singularidade da criança e sua façanhas aventureiras em prol de uma imaginação que encantaria até Shakespeare. É dele a frase: “A imaginação o leva a qualquer ousadia”.

Com certeza o bardo inglês ficaria com largo sorriso no rosto.

Vá Tapanaraca! Vá! Leve esse Oz para outros olhares. O mundo precisa disso!

Espetáculo encenado no Espaço Cultural 930 na cidade de Itapevi/SP em Agosto de 2016.

Dimi Calazans
DRT 22232/SP – ator e diretor de teatro

Em especial para http://dimicalazans.blogspot.com.br/

terça-feira, 18 de abril de 2017

Até quando? - parte II


Até quando? - parte II 

Joamar não viveu mais
Perambulou sempre
Da banca se separou
O mundo o abraçou
Joana na memória
sempre ficou
Bonita saiu naquela manhã
pra trabalhar
e não mais voltou
Joamar e a rua se tornaram amigos
De um lado abrigo
Do outro parceiro entre a multidão
Esquecer das mazelas do mundo
Esquecer Joana não.
Entre latinhas e papelão
Entre saudades e coração
A imagem refletida no chão
Da sua bela paixão
Naqueles dias de profissão
Joamar não sorria mais
Por enquanto...

Até quando? - parte I

Até quando?
Joana passava pela mesma banca de jornal sempre
Seus olhos encaravam os olhos de Joamar
Joamar baixava a testa levando os olhos para patinar
Intrigava Joana a pouca vivacidade, a mocidade
Joana curiosa, torcia para o dia passar
Joamar tinha que trabalhar
No dia seguinte, o mesmo ritual
Um dia, um sorriso, de Joamar
A noite, para Joana, foi mais saborosa
No dia seguinte lá estava Joamar
Joana expressou-se no batom
Joamar viu, sorriu maior
Joana sorriu um mundo
Marcaram um encontro.
Dia marcado, tempo selado
Joamar de camisa passada
Nem terno, nem gravata
Joana de salto alto
Exibia uma Itália corporal
Os segredos contados
Sorrisos e palavras
Mãos entrelaçadas
Uma história começada
Longa jornada
tempo........
Agora Joamar não sorri
Joana não vem
Joamar só trabalha
Nem terno, nem gravata
Apaga a violência
contra a mulher
Joana, foram com ela
Joamar, anularam ele
A violência é um caminho
que apaga as marcas deixadas
Nas histórias vividas.
Não há mais sorriso
Por enquanto.....

Kultme 40 - Financiamento coletivo


Financiamento coletivo na mesa – Fazer ou não fazer?

Esse artigo serve como um relato de um ator perante um financiamento coletivo, conhecido também como vaquinha virtual, crowdfunding ou outro termo apropriado.
Quando nós atores da Cia Cafonas & Bokomokos pensamos em usar o financiamento coletivo como uma forma de levantar fundos para a realização do nosso projeto de montar o primeiro espetáculo teatral após a partida inesperada do nosso mentor – Guilherme Vidal – no início de 2016, nada foi tão fácil e decidido num zás-trás. Somos responsáveis pra caramba e sabiamos que abrir um crowdfunding seria uma intensa luta, que teríamos de nos colocar à prova, e que teríamos de importunar nossos amigos com postagens e mais postagens nas redes sociais, no whatsapp, no e-mail, no telefone, no tête-à-tête, face to face!
Com tantas dúvidas na cabeça, íamos cozinhando a ideia e o tempo correndo. Daí decidimos correr o risco. Afinal de contas, nosso caixa estava zerado, e fazer teatro nesse nosso país não é barato. E o tempo nos consome como um “Pac-Man” ensandecido.
Contatamos nosso grande parceiro Luan Cardoso, cineasta dos bons, e ele nos ajudou a fazer o vídeo de divulgação da nossa campanha intitulada The Tweety Girls – elas chegaram ao sucesso!. Assim, a campanha foi lançada em 5 de Novembro de 2016 e ficaria dois meses no ar inicialmente, mas conseguimos uma prorrogação de 15 dias. (Arrecadamos pelos parceiros da campanha – os kickadores – uma média de 51% do foco inicial).
Campanha no ar, hora de comunicar nossos amigos, familiares, conhecidos e conhecidos dos conhecidos que precisamos de ajuda para financiar nosso projeto. Logo nos primeiros dias, sorriamos com as kickadas bacanas de quem leu nossa campanha e se identificou com nosso trabalho (desenvolvido há mais de 15 anos). Mas logo, os sorrisos foram dando lugar a preocupação. Com 20 dias atacando as mídias sociais, nossa campanha não decolava. A gente se falava e lembro que nos questionávamos muito. Estamos fazendo certo? Falamos com o site, ótimo suporte. E não decolava. Demorou para cair a ficha de que nem todo mundo lê a campanha e ignora totalmente o nosso pedido. Isso é fato! Vão dizer que não, mas é fato!
Mudamos a estratégia, aplicando mais posts e mensagens, e usando aquilo que fazemos de melhor – o nosso modo bem-humorado de encarar o mundo. Muita gente sorriu e se juntou a nós, ao nosso pedido. A cada kickada, ficávamos felizes pra caralho! Todas as kickadas foram comemoradas. Quando era alguém que fazia tempo que não tínhamos notícia então… Uhuhuhuhu!!! Que gostoso é receber carinho. Eu, na produção, enviei mensagens de agradecimento aos kickadores, então sei quem são. E recebi tanta mensagem positiva energizando nosso caminho. Realmente é pra se ficar feliz mesmo! Não estamos sozinhos, embora muitas vezes a gente se sinta desamparado. Ah, mas também entendemos a impossibilidade de ajudar porque a grana tá curta. Tá curta pra nós também. Isso a gente sabe. A gente só não entende ignorar o próximo. Mas, “tá tranquilo, tá favorável…”.
Atualmente, o financiamento coletivo, é um caminho para realização de qualquer projeto. No teatro existem os editais, os patrocínios, os prêmios, um cabeça que resolve investir num sonho, num projeto, o processo colaborativo com a contribuição dos próprios atores, produtoras que bancam um projeto. Enfim, vários caminhos distintos e não tão fáceis. Resolvemos escolher um.
Ao término da campanha, saímos fortalecidos e com a certeza que faremos um espetáculo ímpar para o público. Essa é a nossa missão com The Tweety Girls – elas chegaram ao sucesso!
Nós queremos ele – o sucesso! O sucesso nosso, o sucesso ético, o sucesso pró-laboral, o sucesso fomentador, o sucesso cafona!
Obrigado a todos! Sobrevivemos!
Gratidão! Meu aplauso para você que tirou um bocadinho do seu tempo para ler esse artigo.
Ps: Um beijo no coração dos meus amigos cafonas: Paulo Affonso, Renato Lembo, Marcos Garbelini, Robson Alex Pinto, Luis de Osti, Cosme Junho. Sem vocês comigo, eu já teria ligado pro CVV!

*A campanha The Tweety Girls – elas chegaram ao sucesso! arrecadou metade de sua meta inicial (e flexível) de 12.000, em apenas pouco mais de dois meses.

Kultme 39 - Marmita Artística



Marmita artística

Quem dá a cara a tapa?
Quem tem que pensar em tempo? Nos tempos?
Quem tem que enfrentar chuva, sol, trânsito, mãe brava?
Livros, escolas, cópias, leituras, riscos e rabiscos, quem?
Eu!
Olhos ansiosos, dispostos, lacrimejantes, lacrimosos.
Peito ardido, feliz, contente, ora triste, baqueado.
Cabelo preto, castanho, louro ou careca,
Concentrado, quem?
Eu!
Aluguel para pagar,
Namorada que não entende o atraso,
Namorado que dorme e janta sozinho,
Fico pelo caminho, tentando chegar,
Estudo no transporte coletivo e sigo sozinho
Eu!
Sento na “net” e tento trabalho, telefono… um teste?
Falo com amigos, quando os tenho,
Peço ajuda, emprego, voz!
Muitas vezes, sigo sozinho,
Apaixonado.
No ensaio sou um, dois, três, quatro, sei lá!
Não me importa, eu gosto.
Escolhi esse caminho, meu pecado é esse!
Doce pecado, amado tablado.
Sorrisos e frustrações, claro!
Jogo a perna, o pé, o corpo, danço!
Sou cobra, coringa, homem ou mulher.
É bom, hein!
No começo parecia que tudo ia dar certo.
Os olhos encontravam sempre com outros também vibrantes, fortalecia.
Força, fé, vontade, garra e guerreiros da arte, na arte!
No meio, um gole de crueldade, solidariedade,
E muito mais vontade, ora confundida com insanidade.
Cobranças…
Cada processo é um recomeço.
Cada recomeço é um processo.
E a vida segue a passos… Saborosos!
Afinal não sou vítima de nada.
Faço o que gosto e me proponho,
E no final recebo aplausos… ou não!
Quem?
Ser ator ou estar ator?
Eis a questão!
A resposta é fácil, ser é exclamação!
Sou!

domingo, 15 de janeiro de 2017

Kultme 38 - Aplausos de gratidão

Aplausos de gratidão

natalMês de Dezembro sempre está associado ao velhinho bonzinho: O Papai Noel. Papai Noel é o cara responsável pela realização da paga pelo bom comportamento durante o ano todo. Quando eu era criança, ao menos, um carrinho de plástico eu recebia. Era de uma alegria! Lembro-me como hoje e nunca desgrudava do tal carrinho. A noite de natal era recheada de comida, familiares e alguns presentes. Tinha um ar de gratidão que tomava conta da noite. Muito bom!
É dessa gratidão que vamos desenhar um pouquinho por aqui. A gratidão e o Teatro.
Fazer teatro é um ato de doação. Para se vivenciar um personagem, o pedido ao universo para dar forma aquela história “papelesca” é o primeiro passo quando o personagem aterriza na sua mão. Ele agora será seu (sr.ator), e por isso, comece agradecendo a responsabilidade dada de contar aos outros a história dele (o personagem) por suas mãos, orquestrada por uma boa direção.
palcoNem sempre e quase sempre, você vai querer pensar nisso ou naquilo para dar vida ao seu personagem. O famoso estudo escrito do personagem, que nada mais é do que colocar no papel características externas e internas que determinam a personalidade dele. Nunca esqueça dos defeitos, porque todo mundo tem defeito. Lembro que quando montei “Outros contos de fadas”, uma adaptação de vários contos infantojuvenis, a parte que eu mais gostava é quando mostrávamos o lado B das mocinhas dos contos de fada.
Esse momento – o da determinação de qual personagem você vai vivenciar – é de primordial gratidão. Seja grato, o receba com braços abertos, não seja crítico. Certa vez, na escola técnica, por volta de uma montagem (Suburbano Coração, de Naum Alves de Sousa), onde eu queria porque queria fazer um personagem – Alfredinho – fiz o teste e não peguei o personagem. O outro ator que pegou o personagem não se sentiu a vontade com as nuances “viadescas” dos personagem e ele acabou voltando para mim. Naquele momento, percebi que a gratidão é um dádiva. Novo que era, poderia muito bem fazer cu doce e dizer “ué, eu não podia fazer o personagem. Agora posso?” (rs). Agradeci, abracei, vivenciei e agora posso contar com o maior orgulho essa história. Portanto, o personagem pede passagem, abra os braços e o receba.
Tenha gratidão pela sua equipe de trabalho. Seus amigos de elenco são importantíssimos para o melhor resultado dos seus estudos, da sua performance, porque teatro é jogo e jogo é grupo. Tenha excelente relação com os técnicos, eles são o seu suporte. Não seja superior, porque a superioridade é uma mediocridade involuntária. Seja grato por conhecer histórias. A direção é seu braço, sua bússola. Já vi e ouvi muitas histórias de atores revoltadíssimos com o diretor porque ele queria entrar cantando, por exemplo, e o diretor muda tudo e o faz entrar calado. Eu já pensei muitas coisas e foram modificadas pela mão do diretor e o resultado era infinitamente melhor. Difícil ter gratidão quando se vai contra o que a gente quer! Gratidão é uma prática, não é um item de supermercado.
publicoTenha gratidão pelo seu público. Ele é a parte mais importante da sua realização enquanto ator. Sem eles, não teriam aplausos, olhares, pensamentos, retorno. É uma lei de troca! Seja sábio! A sabedoria é um estado da alma que precisa da permissão sua para pedir passagem.
Por fim, agradeça a você! Dialogue contigo o tempo inteiro, porque somos amigos de nós mesmo antes de qualquer coisa. As possibilidades teatrais que você consegue atingir depende dos desafios que você propõe a você mesmo. E, cá pra nós, ter gratidão com a gente mesmo é vida-longa na certa.
Você já fez esse diálogo com você esse ano? Senão, o papai Noel não vai passar na sua chaminé….Ho Ho Ho.
Eu, de cara, agradeço à vocês que acompanham meus textos pelo Kultme, pelas redes sociais, que comentam, que compartilham, que ignoram, que concordam, que não concordam, que utilizam com outras pessoas, que leem. Gratidão ao pessoal do Kultme, as divas kultmescas Renata Bosco e Mayra Bosco pelo convite, carinho e apoio que sempre tenho. Obrigado ano que se vai levando muitas realizações. Obrigado a mim, porque consigo sentar e escrever pensando na minha arte e em vocês. Obrigado aos meus amigos, familiares, conhecidos, conhecidos anônimos….
Aproveitem o Natal, que é o aniversário de Cristo e não o enriquecimento das lojas de departamento (rs) e no Réveillon, seja grato pelo ano que está ficando para trás. Namastê!
Feliz Natal! Feliz 2017!

Kultme 37 - Eu sou ator! ihhhhhhhh....


Eu sou ator! Ihhhhhhh…


pato-donaldEis que Donald Trump se elege presidente daquela que seria a nação mais poderosa nesse nosso mundão. Carmem Miranda, já cantava “Disseram por aí, que eu voltei americanizada…” Esse senhor – que tem o mesmo nome do Pato bacana do Walt Disney, traz o mote do preconceito muito forte na sua campanha presidenciável.
É isso! Falarei de preconceitos!
Nós todos temos preconceitos. Não precisa atacar pedras, xingar minha mãe ou me chamar de lunático. Todos temos preconceitos! Eu tenho, tu tens, ele tem… Porque é muito complicado falar de uma coisa tão estúpida. Desde muito tempo, discute-se todas essas questões. Que fique claro que o preconceito está intimamente ligado à ideia da discriminação e da intolerância. Intolerância é não tolerar, preconceituar é a ausência do conceito, é julgamento.
Uma vez ouvi um amigo gay, numa roda de amigos dizer: “Eu não tenho preconceitos. Acho um horror! Pra quê serve? Eu abomino. E minutos depois, esse mesmo amigo disse: “Eu acho horrível um homem machão e passivo”. Na cabeça dele um homem sem trejeitos femininos não pode “ser passivo e, imagino eu, que ele deve achar que todo gay afeminado é “automaticamente passivo”. Meu amigo tem preconceitos, porque para ele não está claro o conceito da coisa. Daí para a intolerância é um pulo. (“Eu não gosto, eu não chego perto”, é a premissa do intolerante). Isso acontece com as etnias, com os gordos, com os magros, com bonitos, com feios, com mendigos, com mulheres, com lésbicas, com animais, com mulheres e homens solteiros, com muita gente. Se eu achar que a jabuticaba é ruim sem nunca a ter provado, nunca terei o conceito dela e sempre abominarei e falarei para todos que “não gosto!”. Coitada da jabuticaba. Sofre sem nem ter sido descoberta. Assim é na vida!
mascaras-teatroE no teatro?
Quem, artista dos palcos ou das telas, nunca ouviu frases tipo:
“Você é ator? Você é gay?”
“Deve ser a maior putaria né?”
“Rola muita droga nos ensaios?”
“Os atores separam-se porque é maior putaria, beijar na boca o tempo inteiro….”
“Os atores de musical são uns chatos! Se acham!”
“Ator é tudo louco!”
“Quando você vai arrumar um trabalho?”
“Fazer teatro é atraso de vida, vai trabalhar num escritório”
“Esse pessoal da TV é tudo rico”
“Os artistas direitistas são uns vendidos”
“Os artistas esquerdistas são mancomunados com o sistema”
“Vai trabalhar, vagabundo….” (essa escutamos muito em casa)
“É teatro amador, né?” (como se teatro amador fosse ruim)
Pois bem, é por aí a presença dos preconceitos sobre nossa classe de artistas. Nem precisa esmiuçar em palavras porque as perguntas e frases já vêm recheadas de falta de conceito. Vale lembrar que, não gostar de algo é possível, pois parte da ideia de que já se conhece o “produto” e daí vem o gostar ou não. O que não se deve é atacar as coisas que você não gosta, agindo com intolerância e violência ou salientando as suas preferências como se elas fossem a verdade suprema.
Daí que vem a indignação do Senhor Trump ser eleito na terra do Tio Sam. Num mundo tão cheio de conceitos, como dar brecha a um cidadão cheio de preconceitos? Deixemos nossos conceitos de lado, por um instante, e ….oremos!
preconceitoE abaixo a discriminação na arte! Chega de achar que toda cantora é lésbica, que todo ator é gay, que todo negro é bem-dotado, que todo gordo fede, que todo magro é anoréxico, que todo cabeludo é bicho grilo, que todo bicho grilo tem que ser cabeludo, que todo político é ladrão, que toda mulher lésbica não conheceu um homem, que todo homem gay é um fresco, que anão dá medo, que ratos são asquerosos, que ator é tudo rico, que o Brasil é o país onde tudo pode!
Sabe qual é a melhor resposta para uma pergunta preconceituosa indelicada? Olhar no fundo da alma da figura e questionar: “Onde você descobriu isso?” Tá criada a saia justa e a conversa vai ser longa! Peça uma porção de batata frita e dois chopp!

Kultme 36 - Tempo no teatro


Tempo no teatro

….no balanço das horas tudo pode mudar….”


tempo-teatroPois é, perecível ao tempo. No Teatro, este fator, o tempo, aparece em tom provocador. Ora atormenta o cronograma, ora brinca com os fazeres do elenco, ora passa rápido demais, ora vira um trem no esquecimento do ator, ora vira um tormento ao público que vai pegar o metrô, ora é presente, futuro ou passado. Ora é somente tempo.
Ao começar a falar no projeto de criação, nas reuniões, o tempo – presente – está lá. O famoso cronograma, quando começa a ser construído, faz com que o diretor ou produtor, pense nas agendas dos envolvidos, nas possíveis datas para estreia, editais e afins. Todas as informações terão que ser colocadas no cronograma, ele é o alicerce do movimento do espetáculo, que vai da pré produção aos ensaios e destes para a produção e realização do projeto. E na pós produção também, pois todo começo há de ter um fim. E fim é o futuro atingido (ou não).
ator-palcoAo elenco cabe se organizar nas datas dos ensaios. Muitas vezes, o ator ou atriz, trabalha com a dubiedade do tempo. O tempo real do ator e o tempo do personagem. É imprescindível essa separação. Quem acompanha meu trabalho como ator na Cia Cafonas & Bokomokos, sabe que trabalhamos nossos espetáculos sempre na virada dos anos 60 para 70, época áurea da música chamada cafona e sua variação na moda e comportamento. Nosso texto é apropriado para aquela época (tempo). Ao invés de: “Ele é um charme!”, diria: “Ele é um pão!” Portanto, é estudo e apropriação do texto. Nossos personagens em “Expresso Hamlet”, podiam usar sapatos carrapeta, pois estavam inseridos naquele período. Pode-se, também, pegar uma dramaturgia de Tennessee Williams, por exemplo, e atualizar para hoje. O cinema adora isso. A televisão também. É a tal liberdade de criação, que “autoriza” trabalhar com uma adaptação de um texto de um tempo passado para um tempo presente ou futuro. Tem também, o tempo do ator no palco. No palco, não é ator, é personagem! Reflitam!
A gente, no teatro, brinca que quando um ator pensa no texto, passa um trem, ou seja, o tempo do pensar no texto, faz com que os segundos pareçam um tempo alongado, um trem que passa e o deixa no vácuo. O público, inteligente que é, percebe. E o ator pode perder o tempo ritmo. Que é aquele tempo que dá o ritmo, a dança do espetáculo. A falta do tempo ritmo, dá a famosa barriga – que é o tempo que cansa, que tira o interesse da plateia e faz com que ela olhe no relógio, pensando se a pizza estaria mais saborosa. Estão vendo como o tempo é um quinto elemento no Teatro? E tem mais…
publicoHoje em dia, tem montagens com tempo estendido demais. Alguns tem duas horas de duração e, por isso, acabam utilizando do intervalo, como forma de dar uma desacelerada no processo, permitindo um relaxamento do elenco, equipe e plateia. É o tempo do banheiro. Eu, particularmente, não gosto de intervalo em espetáculo! Acho que quebra o encanto que o teatro traz. Só que para isso o espetáculo tem que estar afinadíssimo para transformar a vontade de mijar em prazer. Certa vez, fui assistir um espetáculo – “Jardim das Cerejeiras” (Antón P Tchékhov) – onde os atores utilizavam toda a caixa preta como instalação do cenário. Nós, o público, ficávamos no meio deles. A única forma de sair da sala, seria passar por eles. Pois bem, o espetáculo era uma punheta sem fim. Texto, texto, texto, text, tex, te, t, zzzzzzzz. E durava umas duas horas. Eu, com uma hora, já estava com a bexiga gritando. Cansativo demais! Saí, com a cara de pau, para uma toilete rápida. E voltei. E a punheta continuou. O tempo neste espetáculo não foi valorizado em nada. Ao final dele, os aplausos foram moles. Mãos de alface! Espetáculos não podem ter um tempo estendido demais, nem tão curtos que não se pensam neles. Estudar o tempo é fundamental.
Uma história que duraria anos para ser contada, no teatro é contada em uma hora e minutos. Novamente, o tempo se readequando. Isso é teatro. É importante salientar que, embora seja teatro e que precisa ser adequado o tempo, não pode ser uma correria sem fim. Tempo e ritmo não são sinônimos de corre-corre. A pressa é inimiga da perfeição, já dizia o provérbio. O tempo deve proporcionar tranquilidade e cadência para a história a ser contada.
O tempo é o nosso grande amigo no palco, só não o deixe desamparado!

Kultme 35 - I Festita - Afinal o que é ser jurado?


I Festita – Afinal o que é ser jurado?


teatroEntre os dias 12 e 21 de Agosto, participei como jurado do I Festita – Festival de Teatro de Itapevi, organizado pelo Studio 8 Encena, onde se apresentaram 9 companhias de teatro do Brasil, com espetáculos variados, entre o tradicional e o experimental.
Aliás, como definir um estilo de espetáculo, não é? Coisa difícil de se fazer. Mesmo o experimental, tem nuances de tradicional e o tradicional , experimenta e muito. Experimental é sair gritando aos ventos? Hummm, sei não…..tenho outros olhares para isso!
O que posso compartilhar com vocês é que foi o maior barato ver o Teatro sendo realizado com amor, comprometimento, carinho, coragem, cor, envolvimento de profissionais da mais alta classe. Frustração também houve, claro! Algo não deu certo? Fugiu do controle? Abraçar o erro e o transformar num acerto. É isso! “A verdade, a Deus pertence” – alguém disse isso, sei lá quem! “A unanimidade é burra, disse Nelson Rodrigues, o dramaturgo carioca.
dimiNo simples e espaçoso palco do Espaço 930, em Itapevi, pude assistir a juventude explorando os seus conhecimentos adquiridos com “diretores pais”, fazendo do palco a sua maior verdade, jogando com os outros, saindo do senso comum, se divertindo e fazendo a plateia rir ou se emocionar. Pude acompanhar trabalhos lindos de pesquisa com o resultado para nossos olhos contemplarem. “Tão agraciado, por ter tido essa honra”. Vários espetáculos tinham a música como companhia e como forma de comunicação. Vi gata, caramujo, lesma, Mulher, Homem, criança, burro, macaco, onça, entre outros, utilizando-se da música para atingir nosso coração. Outros nos faziam chegar no seu conflito pelo viés da canção. A música como segundo ator, vi também. A música ilustrando ação, que magnífica sensação!
Taí, festival. Eu já tive o prazer de participar de alguns. Eles sempre são um encontro de pensamentos, de olhares, percepção sobre obras prontas ou novas idealizações e realizações. Daí que os festivais servem para mostrar esse trabalho para outras pessoas, de outros lugares, com outras vivências. É como colocar o seu trabalho ao julgamento.
Eu, como jurado, penso diferente. Odeio dedos que apontam sem razão de ser. Odeio egos inflados dentro de pessoas especiais. Penso no jurado como um olhar de fora que pode pontuar algo, colaborar com uma ideia, fortalecer um ator, fortalecer um processo. Aquele jurado que só julga não me interessa, porque acho ultrapassado, embrionário e chato, porque não provoca o envolvimento àquelas pessoas que se inscreveram, (muitas) vezes viajaram, apertaram a grana, subtraíram equipe, fizeram das “tripas, coração” para estarem lá: inteiros, no palco ou na técnica. Por isso, minha passagem pelo I Festita, junto com o meu querido novo amigo (também jurado) Fernando Petelinkar, foi tão sublime. Sublime porque a vida, novamente, me proporcionou estar lá, com essas pessoas especiais que o próprio destino se encarrega pelo encontro.
arteClaro, que como jurados, temos, como missão premiar os envolvidos. Daí é que a porca torce o rabo. Somos dois “Hamlet” cheio de dúvidas e abastados de olhares que discutem, com o maior carinho do mundo pelo trabalho realizado e que temos que tirar três nomes e premiar um só. “A realização já é um prêmio, mas um prêmio declarado agrada e muito”. Penso: “Se não foi dessa vez, tá tudo certo. Eu quero é mais”. Esse é um daqueles momentos que os artistas devem se fortalecer e encher o peito de força teatral. Porque somente um vai levar a estatueta. Mas o trabalho vai ser visto por muitos. Esse é um grande prêmio. Em pensar que eu já fiz uma sessão teatral para apenas uma pessoa – e foi sensacional.
É isso! O I Festita foi um barato! Novos amigos, novos olhares. Viva a arte do Teatro! Porque essa, nem que a vaca tussa, deverá morrer!
E que venham mais festivais para abrandar a amargura da alma e cutucar o Teatro em nós.

Poesia minha - Divagações russianas

Divagações russianas

O amor é o fogo
que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer
é estar-se preso sem vontade...
é Camões, é Renato, sou eu, é você
Ah, o amor
É um nobre vagabundo
invadindo nossos quintais
quando assim o permitimos
e invasão com permissão
não é invasão
é processo colaborativo
É Camões
Sou você
"É" eu
Sou Renato
Sou vagabundo
Sou amor!
Que arde sem doer
Que dói sem se ver
Que contente desatina
o contentamento que se sente
na ferida viva
dentro de mim
É amor.
Sou amor
Foi amor
Será amor
É.

Poesia minha - Batman e Robin

Batman e Robin


A gente sempre diz assim:
que temos um amigo (a)
que sai comigo
que tolera as minhas esquisitices
que tem esquisitices que eu tolero
que se lambuza de comer cada besteira
que termina no risos de nós
que dorme no pé da cama
que fica pelado,de calcinha, de cueca, paga peitinho
e eu não ligo mais
que come e suja de farelo de pão o tapete
que ri da sujeira "safadeira"
que fala da paquera ou se cala
que respira junto comigo na tensão
que discorda mas não fala
que fala mas discorda
que toma café, almoça ou janta
na mesa, no chão, no colo, no vão
que vive intensamente comigo
que vive intensamente consigo
que vive explorando as relações
que criamos.

Making off de fotos AKEPHALOS - Leitura Dramática Radiofônica / dez 2016



Ackephalos é um projeto que fui convidado posteriormente à grande discussão de criação dele pelos atores Jeff Gennaro e Clóvis Ribeiro.
Jeff, grande parceiro, me apresentou o texto e algumas lidas depois, conversei com ele sobre a importância do tema e resgatar a antiga ideia poderia ser uma bela obra. Clóvis, radialista, músico, ator e um dos mentores do projeto foi me apresentado e juntos fizemos esse trabalho que intitulamos - leitura radiofônica dramática, realizada na Rádio Cidadã.

Muito interessante passar por isso. Muito mesmo!

Renate Varella, fez esse making off do processo que dará um bom caldo no ano de 2017.

Evoé amigos! Vamos que vamos que Acképhalos pede passagem.