movimentoÀs vezes me pego questionando muitas coisas. Desde uma ação simples do dia a dia, uma notícia do telejornal, um diálogo da novela ouvida (porque tá difícil de assistir), uma postagem da rede social, um pássaro, um carro que passa, qualquer movimento. Claro que nem sempre (ou quase sempre) chego em um fim comum. Penso muito e nem sempre chego em algum lugar com cadeira marcada.
Esse gesto de observar e refletir (ainda bem) tenho comigo desde cedo. Não me acovardava com as ameaças do meninos maiores e nem com o cachorro que rosnava na rua, nem com notas baixas e irregulares da escola. Nunca fui por esse caminho, porque sempre achei que a verdade é algum mistério que não temos capacidade de ter nas mãos. Podemos supor, mas não podemos viabilizar a verdade. Ela existe, claro! Mas o maior barato é o caminho para tentar chegar até lá. O que tem no fim do arco-íris? Um pote de ouro? Talvez um pote de glitter para você criar o seu tesouro. Ou nada para desafiá-lo à encontrar algo.
othelloLá na criação teatral, a tal verdade cênica está aliada, justamente, a esse mistério. É acreditar mesmo que seu personagem pode enganar seu melhor amigo, como Iago fez com Otelo. O Ator pode ter um olhar sobre essa característica e nem acreditar nela, porém, o personagem deve ter, ser, ver e crer. Fé cega? Não! Faca amolada!
Muitas vezes, sou instigado pelo diretor da minha companhia para trazer a verdade à tona. “Vai Dimi, com verdade, Vai!” Putz, é difícil viu, não é mágico. É interior. Mas é uma busca mesmo. Essa busca pela verdade cênica é crucial para encontrar as verdades do personagem que te levarão ao jogo com o outro ou consigo mesmo, pois lhe dará alicerces e engrenagens para mover a ação, para reagir, para ilustrar, para compor o espetáculo. E não tem fórmulinha mágica. É estudar, pegar tua maleta de características, textos, jogar e sentir! Verdade Cênica não é verdade real.
reflexaoPor isso que começo o texto citando a reflexão. Reflexão não é ficar pensando como Rodin em “O Pensador”. Reflexão no sentido da astúcia, deliberação dos próprios sentimentos, curiosidade, decomposição das coisas, dos olhares, das pessoas, do escrito! Reflexão para te levantar do olhar teu (propriamente teu). Outro dia, printaram no Facebook umas cores para celebrar a opinião sobre o casamento gay. Amplo né? Pois não é que virou uma guerra? Se pintei, sou gay. Se não pintei sou contra gays. Jesus deve ter colocado um tapa olho e fones de ouvido. A reflexão é e deve ser maior. Ao invés de julgar, melhor subir nas cores e viajar nas possibilidades. Abrir a mente é não acreditar nas pequenas “in”verdades. No teatro é igual. Abra a mente, ensaie e surpreenda-nos com um belo espetáculo!
Ah, e pegaram Jesus pra Cristo! Tem até umas rolinhas por aí… Vou soltar a minha.
Beijos verdadeiros
Ps: O título do texto é extraído da música Verdade de Carlos Santana e Nelson Rufino, interpretada por Zeca Pagodinho.
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Indicação
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  • Livro para ler: Otelo, o mouro de Veneza, de William Shakespeareotelo
Otelo é uma tragédia onde o mote alavancador é a amizade traída que gera ciúmes. Otelo, o mouro, brilhante batalhador das terras de Veneza, vê-se frente à sua amada Desdêmona numa situação de conflito causada por uma trama ditada por Iago. Surpreendente!
Um ótimo exercício para trabalhar a verdade cênica.
Nas melhores e piores livrarias!