terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Crônicas no olhar - Noite de Outono

Noite de Outono
Era cedo. Madrugada. Quase dia.
Nocauteado por uma canção que dissertava sob a fábula do amor entre um beija-flor e uma flor em pleno frio de Outono, Jonas dirigia a pouca quilometragem do seu maior parceiro - seu carro. Não pensava em nada além do amor.
De longe avista um grupo de rapazes; alguns muito alegres de bebida na veia; seguiam em direção norte com latas de cerveja na mão, calças largas e ideias, talvez!
Jonas, após papear com São Miguel em fé, passou por eles e percebeu um senhor sentado na parada de ônibus logo adiante.
Pensou com seus muitos "eus" em proteger o senhor. Seria ele alvo dos garotos? Ofereceu carona, a qual foi aceita.
Seu nome era Miguel, o mesmo nome do santo.
Jonas se sentiu bem e Miguel agradecido.
Alguns metros à frente, Miguel anunciou o assalto sem constrangimento. E ironizou a boa ação, dizendo que nunca fora tão fácil pegar um otário. Queria dinheiro, relógio, telefone e o que tivesse ali.
Jonas não tinha nem voz. Pálido, nervoso, incapaz. Deu tudo. E teve tempo para relacionar a idade de Miguel à malandragem de assaltante. Se sentiu bobo.
Lembrou da fábula e se sentiu a flor.
Miguel quis o carro.
Jonas disse não. Apanhou.
E no movimento de pancadas e coronhadas, como num balé urbano agressivo, semiótica arte de Guernica ouviu-se gritos!
Sem saber o que bradava , Jonas caído no chão ficou e de Miguel, o "não santo", escutou botas aceleradas que diminuíram em som.
Eram os rapazes, algozes do pensamento de Jonas, que ,agora, o socorriam do malandro senhor.
Viu nos garotos, o beija-flor que ora beijou a flor e que dela se distanciou.
Bateu a chave no contato e respirou. Sangrava o nariz.
E já era dia.
E as flores já sorriam com pétalas repletas de amor aos beija-flores.
E Jonas chorou.
Numa manhã fria de Outono.

Obs.: Baseada na canção Flor e o Beija-Flor, de Henrique e Mariano

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