quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crônicas no olhar - Aniversário

Aniversário

Desde muito cedo, ele não entendia nada sobre fazer aniversário. Também pudera! As condições financeiras não davam para festas ou grandes comemorações com bolo, balão e brigadeiros. Nem sorrisos de pupilos pulando ao som de músicas...infantis.
As comemorações desse tipo só eram conhecidas quando amigos o convidava. Daí os pequenos olhos pretos viravam jabuticabas suculentas frente ao banquete simples e colorido.
Veio a adolescência e o entendimento sobre a vida foi se fortalecendo. As festas ainda não eram presentes, mas a essência da data de se fazer aniversário era mais clara. Já se comia, bolo e brigadeiro, mas os balões... Não eram ainda necessários.

Ele se divertia sorrindo e comendo bolo "Pullman", aquele com a faquinha para cortar. Sabor laranja.
Um dia, combinou com amigos do colégio uma festa noturna numa "danceteria! para brindar e celebrar. Seus olhos se encheram de ternura e felicidade, afinal amigos e uma comemoração seria ideal para celebrar o tal aniversário. Talvez teriam balões. Não! Não teve. Não foi ninguém.
Adulto, envolvido em mil situações, o pensamento desastroso acerca dos balões, bolos e afins, deu espaço para ombros chacoalhando em lateral e simultâneos. Ah, os fortalecidos ombros, vizinho do escudeiro trapézio, protetor do esterno - o berço do coração. E agora até sorria mais das mazelas de datas importantes. "Importante é toda data" virou mantra.
Mas percebeu que o dia de aniversário é um celebrar, um celebrar da vida.
Pode ter bolo, balões, brigadeiro, salgadinhos e balas brancas de coco envolvidos e papel com cabelinhos. Pode ter chapéu com elástico, refrigerante, língua de sogra e palmas efusivas. Pode ter presença, cor, música, fervor.
Ou nada disso...
Só lembranças...
E sua existência.

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