terça-feira, 27 de agosto de 2019

Crônica no olhar - Song pops

Song pops



Sexta-feira. Mais ou menos 17:00 horas de uma tarde saborosamente fria. Avenida Paulista, uma parte de São Paulo com um charme todo especial e inexplicável. Há toda porção humana lá. E essa diversidade social, intelectual, modal, banal, total, sexual faz uma música boa tocar.


Deixei meu calhambeque no estacionamento e tinha clientes à minha espera. Escuto "Meu sonho era salvar a Paola Oliveira de um assalto e ela se apaixonar por mim. Só queria isso agora".

Achei o máximo o sonho do rapaz e viajei nele. O rapaz era o manobrista do local, bonito, branco, gordo mas nem tanto, vestia uma camisa branca com símbolo da empresa e calças justas, provavelmente pretas. Estava meio largado num banco tipo de "banco de praça reaproveitado". Um charme vintage. Falava para ele mesmo mas se dirigindo ao caixa do estacionamento, um homem magro, de óculos, friorento, pois já usava, naquela hora, sua japona estilizada com o logo da empresa. Tinha no rosto e no tom de voz uma história de amor e uma carreira deixada de lado. Era cortês.

Imaginemos a cena da Paola sendo assaltada e o "Bat Masterson" chegando numa voadora, aturdido pelos gritos assustados da atriz de personagem dúbio na novela das 9. Apavorando os meliantes com seus golpes de porrada e voz forte, a loira, como num filme vencedor do Oscar americano, se encantaria com os olhos pretos marcantes e uma canção de Elvis toca. It's now or never! O amor! Ah, o amor!

Tá realizado o sonho. 

Não. Ainda não! "....se apaixonar por mim." - eu ouvi, soletradamente.
Tem que fazer mais mocinho. Vai! - Eu na torcida.

Paola acordaria do transe do Elvis e agradeceria, meio sem jeito, com aquela beleza que lhe é peculiar. E apertaria a mão do nosso herói.

Nesse momento, o perfume Polo, o verde, tinha que chegar na narina esquerda da mocinha e fazê-la se enroscar em suas palavras. Sabe quando o racional samba com o emocional a mais bela gafieira? Isso aí! Ausência de qualquer sentido.

E se não desse certo? E se ela tivesse alergia ao importado perfume? 
Até o mais sábio diria que a verdade seria o melhor caminho. Nesse caso, nunca!

Imaginemos:

Paola separaria sua mão da dele, agradecendo e querendo dar uma gorjeta pelo ato. Ele negando a gorjeta e, tomando coragem. Se declara. Ela, sorrindo, entra em seu carro e da uma buzinadinha graciosa.

"Olha, eu também te amo. Amo meus fãs." (Era ela que se apaixonaria Bat Masterson! Seu erro, eu observaria.) Tocaria "Mother" do Pink Floyd, o carro iria saindo e, pelo retrovisor, nosso herói chorando por ter perdido a oportunidade de sua vida. Ou....

Nosso herói entraria no estacionamento com o peito cheio estourando na camisa branca, sorriso no rosto e diria para o caixa: "Pegou meu Whatsapp".
O caixa olharia para a cena pelas grades da bilheteria, com um olhar "Siouxie' pensando no seu saquinho de pipoca como jantar. 

Toca Iza e seu "Pesadão" e nosso herói dá um salto. E rasga as calças.

Dei de cara com a barraca dos bolivianos e suas cores em tecidos e filtros de sonhos.
E segui.
Sonhar é de graça!

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