sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Kultme 26 - Em tempo de natal, vale um abraço, amigo


Em tempo de natal, vale um abraço, amigo


Natal vela.Estamos naquela parte do ano onde todos os valores positivos estão vindo à tona para belos apertos de mãos, abraços apertados, suspiros dobrados, papeizinhos sorteados de amigo secreto, essas coisas comuns ao mundo natalino.
Que bom seria se isso acontecesse durante o ano todo. Precisamos de amigos, somos amigos, conhecemos amigos, viramos amigos, lembramos dos amigos. Os amigos são essenciais, quando se fala de Teatro. E existem de toda a forma, intelectualidade, gostos e desgostos.
Eu tenho vários. Alguns fiéis, outros quase fiéis, outros “tão nem aí”. Explico:
Quando alguns amigos-atores entram em cartaz, minha caixa de e-mail e minha página do facebook ficam repletas de convites gentis e bacanérrimos. Fico feliz pra caramba, porque meus amigos estão trabalhando, estão produzindo e mostrando sua arte para outras pessoas. Não vou a todos, porque também não tenho essa grana todo dia. E, cá para nós, amigo fazendo peça, temos que pagar. Nada de pedir gratuito. As contas vencem. E ninguém vive de brisa. Quando tenho grana, pago!
Muitas vezes não vou. Muitas vezes eu vou. Quando não posso ir, tento ajudar de alguma forma. Compartilho o flyer, envio para os amigos ou tento com amigos, a divulgação em seus espaços culturais. É o jeito que arrumei de ajudar de alguma forma.
Ainda ajudo nos “crowdfunding” nas vaquinhas virtuais, kickantes, catarses, entre outros. Não sou o cara da grana, mas se tiver e puder, ajudo. Acredito que a colaboração pode abrir os corações e levar público ao teatro.
sumirQuando eu entro em cartaz, a situação é outra. Tenho amigos que somem. Nem uma curtidinha, nem uns “parabéns”, compartilhar nem pensar. Às vezes, até acho que o Triângulo das Bermudas existe aqui. Um vazio só! Como um bom virginiano que sou, sei quem some. Fico bolado! Na última temporada, gente que considero pra caramba, que me chamou para ajudar no crowdfunding, tomou um chá de sumiço até hoje. Amigos atores que só se interessam por você quando precisam de você? Não gosto de pensar assim. Me engano e acho que é porque estão trabalhando. Será?
Tem aqueles que curtem, escrevem, vão, aplaudem, tiram fotos, postam, voltam com outros amigos, pagam pelo seu trabalho (espetáculo). São amigos espectadores. Ah, uma curiosidade: A maior parte não são do Teatro. Com anos de teatro de grupo com os Cafonas & Bokomokos e com um repertório muito visto em longos anos, entendo que nosso maior público não é da arte, mas gosta de arte, de teatro, risos e choros. Porém, tem sim amigos atores que são profundos conhecedores do meu trabalho. Poucos, mas tem.
teatroAcho, no mínimo curioso. O ator só vai ao teatro quando tem gente famosa no elenco? Ou porque veio de fora? Ou porque está no teatro da moda, saiu na revista de artes daquela revista famosa. Uma amiga perguntou um dia, após um convite: “Mas é legal?” Acho de uma falta de ética! Vá ver, criatura!!! Vá sentir! Teatro é sentir, não é propaganda de cerveja. Não tenho mais saco para falta de educação. Não tenho!
Por isso, às vezes, me parece contundente essa quantidade de risinhos fáceis, choradeiras em nome do menino Jesus, abraços e champanhes estourados, se durante o ano, a pessoa só caga e anda.
Como eu sou um maluco no pedaço, adoro teatro, adoro escrever, conversar, dar aulas, voleibol, pessoas, animais, adoro conhecimento, sintam-se abraçados, pois sou da época que no Natal comíamos na mesa. Que em 2016, possamos ser mais felizes e com mais dinheiro no bolso.
Obrigado ao Kultme pelo carinho e a parceria! Evoé!
Happy new year!
mariliaP S: Marília Pera deixou uma lacuna ao fazer teatral. Sua sabedoria, sua paixão, sua articulação, são tão essenciais para qualquer ator, para qualquer profissional das artes. Sua elegância dengosa, seu profissionalismo, sua entrega. Marília, eu adoraria ter lhe dado um abraço, mas não tive essa sorte! Mas te acompanhei e te acompanharei eternamente. Vá, minha estrela, brilhe e ilumine nosso mundo aqui. Marília é sim uma diva dos palcos!
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Indicação
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  • Livro para ler:
Não leia no final do ano, divirta-se à vontade com seus amigos na chuva, na rua, na fazenda…na praia…ou numa casinha de sapê.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Poesia minha - Faça o seu

Faça o seu

Natal, compras, juros, dividendos, sorrisão
Natal, amor, compreensão, amizade, gratidão
Natal, se não tenho não sou não
Natal, se faço, sou abusado, sou não?
Natal parei na contramão, safanão!
Natal, fome, fartura, pobreza, leite e pão
Natal, brilha, reluzente, feliz cidadão
Natal, cidade grande, pequena, oração
Natal, pra que serve mesmo? Hummm, sei não!
Natal, é o nascimento de Jesus. Quem? Sei quem é não..
Natal, fiz compras novas, estourei o cartão
Natal, pago quando der, preocupo não
Natal, briga no Congresso, haja votação
Natal, para amenizar a briga, peruzão!
Natal, terra linda do Nordeste, areião
Natal, uma data do coração
Transformada em valores sem emoção
Natal, natal, natal, nata, nat, na, não...
Que falta de opção!

domingo, 6 de dezembro de 2015

Kultme 25 - Quer vir pra cima? Vem! Vai ficar mais gostoso!

Quer vir pra cima? Vem! Vai ficar mais gostoso!

pedra
Drummond já dizia: “Tem uma pedra no caminho, no caminho tinha uma pedra…”. Pois vamos divagar sobre o conflito no teatro. Esse sujeito – o conflito – é o responsável pelos corações acelerados, pelas diversas óticas de uma situação ou pelo “desacelerar” ou “interessar” de uma boa história a ser vivida, vivenciada ou contada no palco.
Quando estamos no caminhar da vida real, nos deparamos com variadas e múltiplas ações que nos impelem o caminho, popularmente chamadas de dificuldades. Drummond chamava de pedra, no teatro chamamos de conflito.
“Se caminho para frente, alguém ou algo vem no movimento contrário, chocando-se comigo”. No fazer teatral não é diferente. Para um bom espetáculo acontecer, há de ter um excelente conflito, recheado, muitas vezes, de pequenos conflitos. As personagens chocam-se com grandes muralhas para tornar muito mais interessante a sua trajetória e fazer com que os espectadores se movimentem na cadeira. O drama sobrevive disso: movimentos contrários dos desejos, seja de quem for.
fFrente a isso, temos alguns tipos de conflitos que são constantes em dramaturgias. O Homem é o cerne do texto. Ele pode se confrontar com Destino, como um Hamlet “enduvidado” entre ser ou não ser, por exemplo. Seria o destino de Hamlet confrontar-se com sua própria essência no papel da mãe? O Fantasma de seu pai é portador da verdade ou não? Temos então, um outro tipo de conflito que é do Homem contra si mesmo. Ele se questiona. Ele não se compreende, ele sofre e terá que perceber isso. Arjuna de “O Mahabharata” enfrenta isso diante do episódio Baghavad Ghita, onde terá que decidir, se entra em guerra com sua própria família ou desiste da batalha encarando-se com seus próprios medos e fraquezas.
Há ainda, o conflito do Homem contra as forças da natureza, onde ele se depara com a Natureza como antagonista de seus atos, do Homem contra outro Homem e do Homem contra a sociedade. Esses dois últimos tipos de conflitos são comumente utilizados nas novelas e cinema. A personificação do conflito está num outro Homem, um personagem, que ora pode ser um novo amor, um amigo do mal do passado, uma mulher loucamente apaixonada que volta para acabar com a felicidade alheia entre outros.
Outro dia fui assistir à um espetáculo e fiquei horas tentando compreender qual era o conflito. Não tinha! Não teve o carinho para pensar nisso, daí vira um quadro, lindamente pintado ou não (no caso era). Mas não nos arrebata da cadeira, não impulsiona a vida. Fica na contemplação e o teatro passa a ser somente exposição. Não que isso não posso te modificar. A arte modifica, mas estamos falando de teatro, ação. Por menor que seja, o conflito deve ser valorizado, afim de que o público perceba que a vida pode não ser só rosas, podem haver espinhos pontiagudos loucos para ferir a pele.
E cá pra nós, os espinhos são mais desafiadores do que a beleza das flores!

Poesia minha - Verbos

Verbos

Mata a barata
Mata o mosquito
Mata a lagartixa
Mata a vovó, lobo
Mata a aula
Mata a cobra
Mata, mata, mata, mata o caracol
Mata o rato
Foge do bêbado
Foge do louco
Foge do negro
Foge do desconhecido
Bate na canela
Bate no menor
Bate na menina
Bate no menino
Bate, bate, bate, bate para vencer
Vencer, vencer, vencer
O quê?
.............................

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Poesia minha - Balinhas

Balinhas

Ah, lá vem o pequeno no farol
Com sua caixinha de balas ofertando
_Moça quer balinha?
Um vidro suspenso como resposta
Um medo louco sem razão atacou seu coração
É neguinho
É branquinho
Indiozinho, sarará
Japonês ou menininho?
Qual a razão de se assustar?
Farol aberto, olhar desperto
Pode parar moça assustada!
Toca Criolo no rádio
"Dizendo que as pessoas não são más
Só estão perdidas"
Perdidas, perdidas e não achadas
Melhor trocar a estação.
No retrovisor, uma caixinha de balas na mão.



É neguinho
É branquinho
Indiozinho, sarará
Japonês ou menininho?
Só quer sobreviver nessa terra desigual
De amor desigual, de social bestial
De pessoas não iguais, mas tão iguais!
Na essência dona moça, na essência.
E chegando em casa passa na padaria
E compra...
Balinhas!

domingo, 15 de novembro de 2015

Poesia minha - Azul, branca e preta

Azul, branca e preta

Quem sou eu para discutir o bem e o mal?
Sou humano e posso sim discutir isso,
Porém,
Não sou detentor da verdade
Sabe Sonrisal?
Efervescente e lindo jogado na água
Brilhante, fogos de artifícios?
Primoroso para o alívio do estar mal
Ah, fundamental!
É passageiro.......de algum trem....

Como se fossemos gigantes no ringue
Queremos mostrar que somos,
Que crescemos, evoluímos e
De repente,
Não passamos além do olhar....
Discutindo além mar
Sabotar? Meditar? Dialogar? Questionar?
Ah, pára! Há de transformar o pensamento
E não páginas escritas no vazio do quarto oco
Do desejo humano.
Instigados numa página azul, branca e preta.

Uma ação o leva à qualquer ousadia.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Poesia minha - Penso, logo existo!

                          Penso, logo insisto!

Meia tarde, brisa quase gelada
Andando pela orla da praia
Pensamento não pára, desata em disparada,
Incendiando de cores a muralha
Que cobre o crânio careca,
Daquele que não sossega com nada

Uma pisada quase sem sombra
Quero quero querendo atenção
Fome da sua criação ou vaidade extrema
Distração no meio da semi multidão
Quem sorri sem noção?
Quem conversa com a solidão?

Na prainha, o fim de tarde é murmúrio
A recolhida parece um debando
De quem não consegue esquecer dos ponteiros
viciados do urbano tempo desse mundo.

Existe tamanha importância desse ritual?
"A vida lhe compete"
Já dizia algum mestre dos livros
Examinando os movimentos ao passar

Do além mar, do breve caminhar
Da inexatidão de pensar, do sei lá...

E caminhando continuo
Em dúvida que me faz mais acreditar

No mar...


Na imensidão do pensar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Kultme 24 - Ah, o professor...



Ah, o professor….


professorDia 15 de outubro é dia do professor. E lá iá! Que sejam divinas as amarras que fazem os professores manterem seus objetivos dentro da corrida maluca da educação, seja ela em qual âmbito for (escolar, cultural, social, técnico…).
Nós, professores, nos entendemos como tal. A responsabilidade de dizer uma só palavra pode mudar o rumo de algum pensamento, pode abrir o questionamento, pode gerar alegrias e causar crises. Isso chama-se responsabilidade. Alguns vão dizer “Ah, mas educação se aprende em casa!” Concordo, porém, é onde estamos situados que essa educação pode se complementar. Portanto, não fujamos da nossa responsabilidade de coautor de formação de ideias e pensamentos de quem está conosco na longa jornada da vida. E hoje, está muito arriscado ser professor, não é? Conheço “n” histórias de alunos que riscam carros, batem no professor, não fazem nada, xingam o educador, inventam mentiras. Os verdadeiros donos da razão. E para piorar ainda mais, estamos atados com as ações. Porque se eu falar que o menino não faz nada, posso receber um processo ou uma demissão.
E o que isso tudo tem a ver com o teatro?
teatroPara se formar ator, necessariamente você passou por algum professor que te ajudou na sua caminhada. E estes, são de toda a espécie: aqueles que amam a arte na essência e vão te aprofundar no conhecimento, fazendo você chorar, às vezes, porque é tão difícil acertar. Até você descobrir que o “acertar” é relativo. Aqueles que são bons, mas cumprem o papel a distância, são imbuídos de conhecimento mas compartilhar com você só se lhe convier. Tem aqueles que você quer distância, porque ele acha que ser professor de teatro é ser ator, então ele nunca ensina, ele faz e você copia. Tem aqueles que caem de paraquedas no teatro porque queriam entrar para a Rede mais conhecida de televisão do nosso Brasil. Só que a conta de luz vem e tem que pagar. E consegue dar aula, mas não consegue aprofundar a essência da aula de teatro. Há o professor ditador. “Eu sou, eu estudei, você está estudando!” Faça o que eu digo porque eu sei! Tem de todo tipo. Eu já tive um professor na escola técnica que, quando fui questionar com ele que uma cena não estava funcionando (era uma opinião minha), ele me respondeu assim: “Eu sei, mas deixa ele (o ator) se estrepar”. Fiquei mudo! Indignação! Era o trabalho do cara!
Outro dia, um ator-dançarino contou que, quando estudava, o professor batia nos atores para eles aprenderem. Eu achei um pouco de exagero – a bicha queria mostrar que era culta, bem formada e tal. Acho que é bater no sentido de te explorar enquanto ator, te provocar, te desamparar para te acolher, exigir de você a arte que você tem para mostrar. Bater em mim para aprender teatro? Perdi essa aula. Mas vai saber se não era uma técnica nova.
hamletTive alguns alunos jovens de teatro e usava sempre a ferramenta da percepção para eles. Se encontre e você começara a dar oportunidade às suas vidas interiores para dialogar com elas e permitindo a elas virem à cena. Certa vez, num trabalho de Shakespeare, voltado para uma série de apresentações de cenas, conforme tínhamos combinado e trabalhado por dias, notei que muitos deles arrumaram desculpas imbecis para não estudarem as cenas e, consequentemente, não fazer a apresentação. Com muita calma e empolgação fizemos a mostra com quem tinha preparado e foi muito bom. Na aula seguinte, todo mundo em sala, daí chega minha hora: Que decepção hein galera! Cadê o nosso acordo? Ser ator não é bolinho não! Daí questionei, um por um, sobre as vontades que me falavam ter. “Ah meu sonho é fazer a Julieta”, “Nossa, o monólogo do Hamlet é tudo!”, “Estou estudando, professor”. Tem que ser honesto para ser professor de teatro. Tem que ser amplo no olhar. O desejo de ser ator não é um manual de como ser. Não adianta querer galerinha, tem que fazer, estudar, produzir, se doar, se amar, entender os conflitos que vão vir, Fernanda Montenegro disse certa vez: “Quer saber se você tem tino para teatro? Deixe de fazer por um tempo. Se doer! Volte e seja feliz”. Se não doer, não é tua praia. Ninguém (quer dizer, quase ninguém) vai longe enganando-se o tempo inteiro.
Afinal, ser professor de teatro, não é padecer no paraíso. Só precisam pagar melhor, até porque eu também tenho que pagar a conta de luz.
Indicação
ionesco
A lição, de  Ionesco, mestre do Teatro do Absurdo, apresenta uma peça que traz, de forma divertida, questões do ensino. Em As cadeiras, um casal de velhos aguarda personalidades para uma recepção na torre onde moram. Excelente leitura.

Kultme 23 - Analisando o texto teatral II



Analisando o texto teatral – Parte II


dedeu
Dedéu! Taí, promessa é dívida. No artigo anterior, prometi descobrir a origem do verbete “longe pra dedéu”. Uns dizem que a gíria veio junto com os hippies nos anos 70, outros que é o nome de uma expressão da Idade Média – D’Edel – que significava nobre. Mas gostei da versão que se explica por uma crença popular. Um homem – Dedéu – que tinha pernas muito longas e chegava rápido em qualquer lugar. Um certo dia, foi procurar uma cachoeira dentro de uma floresta e nunca que aparecia essa cachoeira. Um dia todo percorrido com longas pernas, eis que ele desiste. “Se o lugar era longe para Dedéu, imagine para nós? ” Gostei dessa, aliás adoro crenças populares, nos leva longe! Significa muita quantidade ou intensidade. Tudo a ver com teatro!
Continuemos nosso propósito com o texto teatral, iniciando no artigo anterior.
leituraCom todo aquele entusiasmo pelo texto, com todas as anotações destacadas na sua cópia, sua cabeça já deverá estar cheia de dúvidas, anseios, curiosidades e ideias. Que bom! É assim mesmo! Próximo passo é destacar o ASSUNTO do texto. O assunto é um resumo em palavras versando sobre como a história é contada e sobre quem ela se desenha. Dependendo, do texto, isso não é uma tarefa tão simples assim. Alguns personagens devem aparecer nesse assunto, destacando quem é o (s) protagonista (s) e o (s) antagonista (s). Lembrando que protagonista não é o mocinho ou mocinha da história e antagonista não é o malfeitor. Protagonista faz a história acontecer e antagonista, provoca o conflito. Extremamente importante que se discuta o assunto do texto, porque uma má interpretação da história e do assunto, pode desencadear um assunto preso no umbigo. Não é errado, mas tem que assumir o assunto destacado até o fim.
Assunto destacado, o TEMA é o próximo passo. O que a peça aborda? Do que ela trata? Do que se questiona? Pode ser um só tema ou vários. Mas são substantivos! Amor entre irmãos, crise conjugal, solidão, avareza, amizade, crimes, entre tantos. Deve-se tomar um grande cuidado aqui: como sempre há vários temas dentro de um texto, eleja aquele que está inerente à obra e não a estórias particulares de personagens. O olhar tem que ser amplo! Porque o tema deve estar implícito ou explícito nas cenas do espetáculo como um todo.
Assunto e tema em mãos. Uau! Quanta coisa colocada nos questionamentos de mesa! Parta agora para o SUPEROBJETIVO. Que é o pensamento do AUTOR e não seu, ao escrever sobre aquele texto. O superobjetivo justifica as ações dos personagens.
Esse tripé já proporciona um outro olhar sobre a obra a ser construída para os palcos. Não deixará ilhadas, as dúvidas quando elas surgirem. Teremos, então, embasamento concreto para achar respostas.
textoPapo técnico esse não? Pois é! Mas é assim. A roupagem que você vai dar para o espetáculo é outra coisa. A roupa pode ser aquela que você quiser, mas o interior tem que ser estudado, para a roupa cair melhor. E quer saber? É gostoso demais fazer essa decupagem. São períodos de descobertas e olhares mais profundos. No mínimo, enquanto artista, teu olhar vai ficar mais apurado.
Mas querem saber? Conheço uma pá de atores que odeiam fazer trabalho de mesa. O resultado a gente vê no palco. Mas tem gente que não liga mesmo. Mas eu ligo! Um beijo e um queijo!
Indicação
  • Livro para ler: Plinio Marcos – A crônica dos que não tem voz
plinioEntrevistas e textos são utilizados para dar vida às obras do dramaturgo santista e a cidade de Santos. Mais do que isso, presentearam o leitor com saborosas e debochadas crônicas do santista, algumas inéditas.
Plínio faria 80 anos agora neste mês de setembro. Leitores, é fundamental ler, ao menos, uma obra deste “craque” da dramaturgia nacional.


Poesia minha - Carrocidade

Carrocidade

No meu carro eu ouço tudo
Tem um riders on the storm
Seguido de Creep
Agasalhado por Não existe amor em SP
Disparado com flashes de Papparazzi
Cabe sim, cabe bem, Cabo verde!

Where the streets have no name,
Pizzicato five
Bruno Mars encorpado com Tulipa
Vem Zeca, o da bala ou o da mesa de bar?
Cabe!
Where?
No meu carro eu ouço o que me faz sorrir
The Animals, the house of the rising sun
Rise, PIL, Depeche com Strange love ou Stray, o cats

Madonna não rima com Legião urbana
Mas no possante, rima, não é Rael? Da rima
Com carimbó quase saio dançando
Vou dirigindo e sambando com Diogo Nogueira
Vou sorrindo pelos cantos cantando
Marisa Monte e seu xote das meninas,
Que me remete à Julieta com seu apaixonado Romeu

Cabe....cabe....cabe, cabimento, cabideiro
cabeçudo, cabe tudo, cabe mais com o som do mundo
E vou dirigindo apaixonado!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Poesia minha - Estágios

Estágios

Criança na ciranda, circula
Circula na roda, a esperança
Esperança não se alcança, na espera
Espera não combina com criança
Criança brinca e se encanta
Encanta com o simples e com carinho
Carinho dos momentos, batimentos
Batimentos em momentos, ah a criança...


Circula!


A roda gira, o tempo anda... de bicicleta
Que circula, que circula...
Que reverbera no viver infantil
Que libera prazer na juventude
Que traz dúvida ao adulto
Que enobrece os mais velhos
E que circula
E nos aproxima frente da vida!
Seja em qual estágio for!


Vem criança....

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Poesia minha - Infanticida

Infanticida

Um menino caminhando sobre algodão, branquinho
Dente de leite caído quebrado, afogado
Solidão demais no campos da sagração
a primavera não deu as caras desta vez, inverninho?

Sei não, sei lá, sei, só sei que nada sei, ah o menino
pequenino chorava e sorria em doses paralelas
tropeçando no branco algodão, me dê sua mão?
nada, nada, nada, somente nada, era a solução

Ah o menino, cadê o menino?
onde foi parar seu sorriso, ao longe ainda, o choro
Explosão, abafando o sonoro
Ainda escuto lá longe umas lágrimas amargas
que sumindo vão lá, agouro?

Agora o menino é abraçado não sei por quem
não tem som, não tem explosão, não tem rumor
Tem sentimento bom que não tinha aqui

Tem vazio, oco, solidão
Tem chão!

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Poesia minha - Agradecimento

Agradecimento


Amigos, amigos, amigos
Obrigado pelos votos de aniversário
Quando se pensa o contrário
Melhor ficar preso no armário.
Ih já virou conversa de sexualidade, que nada!
Armário aqui é conversa fiada

Comemorar comigo
minha idade que passa todo dia
E que se renova a todo instante
me traz felicidade que irradia
Com as palavras enviadas ou figuras imaginadas
Que do amor nunca está distante

Fico pensativo comigo
O dia que rompe a bolsa
Logo precisamos de abrigo
E é nos braços da mamãe
Que nosso chora repousa.
"Dorme nenê que a Cuca vem pegar..."

Nascer é nossa dádiva divina
Nasci, logo existo!
Comemorar mesmo, para evocar
Os deuses protetores
Do nosso livre arbítrio
De gostar e de não gostar
Das causas e consequências das escolhas

E tem quem não tá nem aí prá você!
Mas para não pra ligar isso
Eu tenho
amigos, amigos, amigos!
Nasci, logo existo!

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Kultme 22 - Analisando o texto teatral



Analisando o texto teatral



textoAlzira – “Não diga palavrão, não. Isso é uma coisa muito feia… Você, toda vida, foi muito educado, graças a Deus. Essa queixa ninguém pode lhe fazer. Ninguém. O melhor menino que tinha por aqui era você, e todo mundo dizia. Dizia mesmo. Na escola, na missa…. Todo mundo dizia. Agora, não diga palavrão, não. Você não dizia naquele tempo, pra que é que vai dizer agora? Ainda mais dentro da sua casa. O que a gente aprende na rua, a gente deixa na rua. Não traz pra casa, não. Limpou os pés na soleira da porta, pronto: o que era da rua fica pra trás. Chega, pelo amor de Deus. ” (Trecho extraído de Avental todo sujo de ovo, de Marcos Barbosa)
Texto! Esse é o primeiro documento que nos chega às mãos quando pensamos em montar algum espetáculo. E entende-lo é o primeiro passo para que os pensamentos da direção, encenação, elenco e técnicos caminhem na mesma proporção. Daí chegamos a um trabalho que está quase em extinção: o trabalho de mesa.
lerTrabalho de mesa é essencialmente um trabalho de destrinchamento do texto feito na MESA. Não no sofá, na cama, no chão, no carro. É muito importante o circular ou retangular ou quadricular para que se escutem os sons, as palavras e enxerguem as reações de todos. Um trabalho de mesa é demais de importante, porque quando vamos para a fase de improviso/ensaio já tem um belo caminho percorrido/entendido. Não sei por que cargas d’agua muitos insistem em achar que é só decorar e fazer. Fazer é muito diferente de entender! Questionar! Sempre questionar, como Alzira, do texto acima, questiona o filho!
No trabalho de mesa, vamos analisar o texto e o caminho é extenso. Há trabalhos de mesa que duram uma série de encontros. Esses são bons! O objetivo de uma análise de texto é proporcionar atalhos criadores para a concepção do espetáculo, por parte de todos. Ao elenco, cabe aplicar a seus personagens, ações dramáticas e conflitos.
A comunicação do texto ao público é a primeira vontade para a concepção por parte do diretor. Numa real análise da forma e do conteúdo, onde se descobre e discute todos os porquês do texto, essa comunicação fica mais próxima da realidade. A quantidade de assuntos e abordagens para esse trabalho de mesa é enorme. Vou escrevendo sobre os assuntos por partes, caso contrário, o artigo seria muito extenso. Partimos da ideia de que uma peça, um texto dramatúrgico tem uma vida. Ela foi escrita por alguém que viveu em determinada época, acirrada por motivos econômicos, sociais, culturais, pessoais, históricos. Dentro do contexto da escrita tem o enredo, o gênero ao qual foi concebido, as personagens, as ações, os conflitos, antagonistas, protagonistas, apoios. Isso pode ser claro dentro do texto ou não.
Vamos lá!
leituraPrimeira leitura do texto. Todo mundo pontual no local escolhido, cada qual com seu texto, um lápis (não uma caneta), um belo sorriso estampado no rosto e vamos ao trabalho. Nessa parte da leitura, fazemos uma leitura branca, sem intenções concretas, sem interpretar. É um primeiro contato. Porém…Ele deve estar repleto de entusiasmo! (Entusiasmo = Deus interior). O entusiasmo na arte é a ponte que une a vontade de fazer com a criatividade a ser usada. Deixe-a exposta.
Sorria! Argumente! Pense! Deixe as impressões virem à tona, elas são genuínas, naturais e serão muito importantes para se medir as primeiras impressões que o público terá com esse texto representado/interpretado no palco. Aos atores, nada de fazer pré-pesquisa de quem é o autor, quem montou, quantos prêmios, quantos jabutis, quantos nhenhenhém. Não precisa! Isso atrapalha! Isso aumenta um ego bobo! Parta do zero! Parta da semi-ignorância ou ignorância. Só anotem nos seus textos todas as indagações, curiosidades, ideias, risos e dúvidas. Esses sim, serão importantes para se dar vida ao texto.
No próximo artigo, continuo falando sobre isso. Porque tem coisa pra dedéu! Aliás, o que quer dizer dedéu? Vou pesquisar! Um beijo e um queijo com patinhas de caranguejo! Não, só o beijo está bom!
Indicação
  • Livro para ler (e analisar): O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
auto da compadecidaEsse texto, dito pelas palavras de Sábato Magaldi (1962), como o texto mais popular do teatro brasileiro, conta através de recriação de textos de cordel, as peripécias de João Grilo, típico cidadão do nordeste brasileiro com suas artimanhas de bom brasileiro dentro de uma dramaturgia que dá pano para a manga. Mescla elementos de cultura popular, com literatura de cordel, comédia e cultura religiosa. Suassuna, o mestre, nos presenteia com esse clássico do teatro, que ora foi adaptado para o cinema e televisão.