sábado, 28 de dezembro de 2019

Conversas do cotidiano - Silêncio

Silêncio


Sentei no metrô, voltando do cinema, tempo úmido, fome. Pensando que o povo é a semelhança daquelas crianças do moedor de carne do "videoclipe" do Pink Floyd.
Sento. Saco meu revólver de tela, mas antes, como bom virginiano, dou aquela panorâmica no quase vazio vagão.
Duas lindas mulheres, provavelmente namoradas, conversam baixinho de mãos dadas. Ninguém olha para ninguém, eu penso. E erro.
As moças descem sorrindo e leves como deve ser o amor. Sorrio. Escuto.
Voz - Viu que até a Camila Pitanga tá namorando mulher?
Meu ouvido regurgita a pergunta e olho, no sentido da voz. Perto de mim, uma mulher de bolsa preta no colo, cabelos presos e castanhos, de vestido ensolarado em formas tão bobas, fala procurando aprovação.
"Tem gente que merece virar carne moída mesmo" - meu pensamento mudo fala. Nem voz saiu. Meu corpo distanciou-se de perto da "senhoura" como se tivesse vida própria. E tem. O corpo fala!
"Livrai de mim os talentos para carne moída".

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