sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Crônicas no olhar - Urubus, pombos e garças

Urubus, pombos e garças

Sobre o piso molhado das pistas lotadas de ferro decotado e bem aprumado em diversos tons, observo.
Observo, sobre as luminárias responsáveis pelo clarear da noite, urubus de um lado e do outro, pombos e no rente do podre rio, garças. Pequenas e grandes.
Ávidos por um cheiro de alimentação. Logo abri o leque para o limiar da fome.
Somos pássaros novo longe do ninho como já dizia o Russo, o Renato, oras.
A fome não se traduz, se sente. Matá-la é como uma nota musical difícil de alcançar. É a necessária e não criminosa morte matada com dentes, bicos e afins. A fome, dolorosa fome, dos urubus e pombas naquela marginal de rio desgastado é uma espera constrastante com a prontidão do ir e vir dos calhambeques de marca.
Mais adiante, os urubus, para enganar a fome, invocam uma dança circular negra de beleza sublime. E os pombos bicam o solo - são mais famintos? E as garças são bibelôs do rio.
Um castelo chamado Tietê, com gárgulas negras e estátuas brancas e jacarés multicoloridos no lago, beliscando o musgo. E um bando de súditos em seus cavalos motorizados. Fico perambulando no meu pensamento, vislumbrando o momento do encontro do alimento por eles. Todos eles!
A fome é a ausência do conteúdo.
Passa uma revoada de pardais, uma verdadeira raridade no castelo.
Alguém buzina e tiro um punhado de amendoim do bolso menor da mochila cáqui enganando a bonita e dolorosa vontade maior dos urubus, pombos e garças.
E chove mais forte....
E sinto menos fome...
E os vejo no retrovisor.
Ainda com fome.

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