sábado, 24 de agosto de 2019

Crônica no olhar - Histórias

Histórias...
Um rapazinho, jovem, cabelos pretos encaracolados e brilhosos, bonitos, sujos um pouco, bigodinho juvenil, olhos pretos, uma roupa que não me lembro qual, me olhou da orla da sua praça moradia - eu acho - desviou o olhar porque a leitura dele assim quis.
Circulou por entre alguns carros num farol demorado e falava ao vento em direção às "janelas-motoristas" dos automóveis. Acho que encheu o peito e veio com a coragem necessária para tentar ouvir um sim ou outro meteórico não - rotina pouca é bobagem.
Falou tão rápido tudo de uma só vez e eu só o observava olho no rosto - ouvi "moro na rua e moeda, ajudar". Aquela rapidez me traduziu a desesperança da situação, a fragilidade da alma juvenil, sem experiência outrora, uma pena caindo da mesa enquanto alcança o solo.
Respondi com rapidez menor que não tinha porque estava sem nada ali, e minha mão pegava um pouco da grana da ração dos gatos e a estendia. Sei lá! Há momentos que não se obedece os preceitos - agradeceu com mãos sujas e olhos jabuticabas gigantes e alguém buzinou. Saí. E pelo retrovisor vi que a cena se repetiria como o segundo dia do final da novela.
É um recorte da vida. Um recorte!
E tive que comprar a ração com cartão!
Sem dinheiro, sem emprego, mas inteiro,
de material humano....

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