sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Crônicas no olhar - A noiva

A noiva

Sempre saio com belo tempo de sossego quando tenho um compromisso. Nesse último sábado, meu compromisso era com o palco. Figurinos e acessórios reunidos e sorridentes, lá fui eu: primeira marcha, rádio ligado, sintonia começada...
Olhando para o infinito acima de nós, a sensação era charmosa, o pensamento perambulava nas lacunas do pensar. Tudo bem.Tudo indo bem.
Já perto do centro de Sampa, dia de Virada Cultural, o trânsito parou. Claro!

O rádio salpica "Ride on time".
Meus olhos grandes e castanhos encontram, no retrovisor, um belo carro preto desses antigos e dentro uma noiva e seu garboso motorista. Time, tempo, tempo, time.

Uma noiva! Minha mente diante daquele trânsito encheu-se de vigor e pressão boa. A mocinha em roupa branca empunhou sua arma: um celular. E sabe-se lá o que teclava...
Uma noiva tem uma relação matrimonial com o tempo. Naquele momento sua oração era o tempo. Seu tempo era oração. Ou não: será que ela estava jogando Candy Crush?
Ao redor umas baforadas ao volante, pássaros suingando na sua liberdade e talvez zombando da gente: prisioneiros de um tempo lento, grafitis apagados, prédios acinzentados, uma cidade ao sinal dos tempos, vivendo sob os ponteiros de um relógio sem maquinário.
E a mocinha lá, de grinalda abaixada e simbolicamente calma. O motorista suava sob um quepe bonito e sorria baixinho, de nervoso.
E eu cantando meio sem jeito, segui meu pleito pensando como é tão particular o tempo.
E que bom!
...E o espetáculo foi bacana.

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