sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Conversas do cotidiano - Ledo engano

Conversas do cotidiano
(Ledo engano)
Domingo cedo, Sol, bairro, onde perto tem uma feira, alguns esfregam seus automóveis com buchas ou panos, bares vazios abertos. Eu passeando com Manu, recém banhada numa guia laranja feliz da vida.
Uma moça, meio perdida na rua, com um micro short jeans desfiado bem óbvio, blusinha de um ombro só, tênis, quase preparada. Procurando algo que mente alguma ousa dizer o nome, cruza com o olhar de um senhor debruçado no seu carro na garagem. Olhos que saltam, interrompidos por um olhar jovem, provavelmente seu filho ou neto.
"Sentimental eu sou..." - Ele canta. A mocinha nem liga. Manu me puxa - até ela cansou do monólogo.
No bar aberto toca: "Detalhes tão pequenos de nós dois..." um Robertão como trilha sonora do teatro a céu aberto. Sai um homem de camiseta, bermuda e boné que me cumprimenta e cruza com duas senhoras que descem a semi ladeira, com saias de obreiras de alguma igreja.

Mulher 1 - É uma sem vergonhice maligna. Você acha? Ficam lá metendo a mão no nosso dinheiro.
Mulher 2 - Eu falo que a corrupção é uma máquina sem fim mesmo.
Mulher 1 - E eles ficam todos lá, juntinhos. É uma máfia. Deus proverá. Tenho fé no poderoso.
Mulher 2 - Mas enquanto isso roubam a gente.
(Manu balança o rabinho)
Mulher 1 - Mas eu já falei com o irmão Lindo.
Mulher 2 - Ihh, agora ferrou tudo. Ele é o primeiro a cobrar o dízimo.
Mulher 1 - Será? A mulher dele é tão legal.
Mulher 2 - Cobra. Outra cobra.

(Manu empacou para cheirar uma plantinha e a conversa foi esvaindo-se ao longe e eu achando que estavam falando de Brasília. Voltei e dei de cara com a mocinha de shortinho sentada tomando um chupchup. Vermelho!)
"Vem Manu. Chuck Chuck Berry!" 
No domingo as almas dormem cansadas e a vida colore-se com a visita do sol.

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