professorDia 15 de outubro é dia do professor. E lá iá! Que sejam divinas as amarras que fazem os professores manterem seus objetivos dentro da corrida maluca da educação, seja ela em qual âmbito for (escolar, cultural, social, técnico…).
Nós, professores, nos entendemos como tal. A responsabilidade de dizer uma só palavra pode mudar o rumo de algum pensamento, pode abrir o questionamento, pode gerar alegrias e causar crises. Isso chama-se responsabilidade. Alguns vão dizer “Ah, mas educação se aprende em casa!” Concordo, porém, é onde estamos situados que essa educação pode se complementar. Portanto, não fujamos da nossa responsabilidade de coautor de formação de ideias e pensamentos de quem está conosco na longa jornada da vida. E hoje, está muito arriscado ser professor, não é? Conheço “n” histórias de alunos que riscam carros, batem no professor, não fazem nada, xingam o educador, inventam mentiras. Os verdadeiros donos da razão. E para piorar ainda mais, estamos atados com as ações. Porque se eu falar que o menino não faz nada, posso receber um processo ou uma demissão.
E o que isso tudo tem a ver com o teatro?
teatroPara se formar ator, necessariamente você passou por algum professor que te ajudou na sua caminhada. E estes, são de toda a espécie: aqueles que amam a arte na essência e vão te aprofundar no conhecimento, fazendo você chorar, às vezes, porque é tão difícil acertar. Até você descobrir que o “acertar” é relativo. Aqueles que são bons, mas cumprem o papel a distância, são imbuídos de conhecimento mas compartilhar com você só se lhe convier. Tem aqueles que você quer distância, porque ele acha que ser professor de teatro é ser ator, então ele nunca ensina, ele faz e você copia. Tem aqueles que caem de paraquedas no teatro porque queriam entrar para a Rede mais conhecida de televisão do nosso Brasil. Só que a conta de luz vem e tem que pagar. E consegue dar aula, mas não consegue aprofundar a essência da aula de teatro. Há o professor ditador. “Eu sou, eu estudei, você está estudando!” Faça o que eu digo porque eu sei! Tem de todo tipo. Eu já tive um professor na escola técnica que, quando fui questionar com ele que uma cena não estava funcionando (era uma opinião minha), ele me respondeu assim: “Eu sei, mas deixa ele (o ator) se estrepar”. Fiquei mudo! Indignação! Era o trabalho do cara!
Outro dia, um ator-dançarino contou que, quando estudava, o professor batia nos atores para eles aprenderem. Eu achei um pouco de exagero – a bicha queria mostrar que era culta, bem formada e tal. Acho que é bater no sentido de te explorar enquanto ator, te provocar, te desamparar para te acolher, exigir de você a arte que você tem para mostrar. Bater em mim para aprender teatro? Perdi essa aula. Mas vai saber se não era uma técnica nova.
hamletTive alguns alunos jovens de teatro e usava sempre a ferramenta da percepção para eles. Se encontre e você começara a dar oportunidade às suas vidas interiores para dialogar com elas e permitindo a elas virem à cena. Certa vez, num trabalho de Shakespeare, voltado para uma série de apresentações de cenas, conforme tínhamos combinado e trabalhado por dias, notei que muitos deles arrumaram desculpas imbecis para não estudarem as cenas e, consequentemente, não fazer a apresentação. Com muita calma e empolgação fizemos a mostra com quem tinha preparado e foi muito bom. Na aula seguinte, todo mundo em sala, daí chega minha hora: Que decepção hein galera! Cadê o nosso acordo? Ser ator não é bolinho não! Daí questionei, um por um, sobre as vontades que me falavam ter. “Ah meu sonho é fazer a Julieta”, “Nossa, o monólogo do Hamlet é tudo!”, “Estou estudando, professor”. Tem que ser honesto para ser professor de teatro. Tem que ser amplo no olhar. O desejo de ser ator não é um manual de como ser. Não adianta querer galerinha, tem que fazer, estudar, produzir, se doar, se amar, entender os conflitos que vão vir, Fernanda Montenegro disse certa vez: “Quer saber se você tem tino para teatro? Deixe de fazer por um tempo. Se doer! Volte e seja feliz”. Se não doer, não é tua praia. Ninguém (quer dizer, quase ninguém) vai longe enganando-se o tempo inteiro.
Afinal, ser professor de teatro, não é padecer no paraíso. Só precisam pagar melhor, até porque eu também tenho que pagar a conta de luz.
Indicação
ionesco
A lição, de  Ionesco, mestre do Teatro do Absurdo, apresenta uma peça que traz, de forma divertida, questões do ensino. Em As cadeiras, um casal de velhos aguarda personalidades para uma recepção na torre onde moram. Excelente leitura.