pedra
Drummond já dizia: “Tem uma pedra no caminho, no caminho tinha uma pedra…”. Pois vamos divagar sobre o conflito no teatro. Esse sujeito – o conflito – é o responsável pelos corações acelerados, pelas diversas óticas de uma situação ou pelo “desacelerar” ou “interessar” de uma boa história a ser vivida, vivenciada ou contada no palco.
Quando estamos no caminhar da vida real, nos deparamos com variadas e múltiplas ações que nos impelem o caminho, popularmente chamadas de dificuldades. Drummond chamava de pedra, no teatro chamamos de conflito.
“Se caminho para frente, alguém ou algo vem no movimento contrário, chocando-se comigo”. No fazer teatral não é diferente. Para um bom espetáculo acontecer, há de ter um excelente conflito, recheado, muitas vezes, de pequenos conflitos. As personagens chocam-se com grandes muralhas para tornar muito mais interessante a sua trajetória e fazer com que os espectadores se movimentem na cadeira. O drama sobrevive disso: movimentos contrários dos desejos, seja de quem for.
fFrente a isso, temos alguns tipos de conflitos que são constantes em dramaturgias. O Homem é o cerne do texto. Ele pode se confrontar com Destino, como um Hamlet “enduvidado” entre ser ou não ser, por exemplo. Seria o destino de Hamlet confrontar-se com sua própria essência no papel da mãe? O Fantasma de seu pai é portador da verdade ou não? Temos então, um outro tipo de conflito que é do Homem contra si mesmo. Ele se questiona. Ele não se compreende, ele sofre e terá que perceber isso. Arjuna de “O Mahabharata” enfrenta isso diante do episódio Baghavad Ghita, onde terá que decidir, se entra em guerra com sua própria família ou desiste da batalha encarando-se com seus próprios medos e fraquezas.
Há ainda, o conflito do Homem contra as forças da natureza, onde ele se depara com a Natureza como antagonista de seus atos, do Homem contra outro Homem e do Homem contra a sociedade. Esses dois últimos tipos de conflitos são comumente utilizados nas novelas e cinema. A personificação do conflito está num outro Homem, um personagem, que ora pode ser um novo amor, um amigo do mal do passado, uma mulher loucamente apaixonada que volta para acabar com a felicidade alheia entre outros.
Outro dia fui assistir à um espetáculo e fiquei horas tentando compreender qual era o conflito. Não tinha! Não teve o carinho para pensar nisso, daí vira um quadro, lindamente pintado ou não (no caso era). Mas não nos arrebata da cadeira, não impulsiona a vida. Fica na contemplação e o teatro passa a ser somente exposição. Não que isso não posso te modificar. A arte modifica, mas estamos falando de teatro, ação. Por menor que seja, o conflito deve ser valorizado, afim de que o público perceba que a vida pode não ser só rosas, podem haver espinhos pontiagudos loucos para ferir a pele.
E cá pra nós, os espinhos são mais desafiadores do que a beleza das flores!