terça-feira, 5 de maio de 2020

Conversas do cotidiano - Tempos modernos

Conversas do cotidiano
Tempos modernos

Homem - A senhora deveria ficar em casa. Não tem medo do vírus?
Senhora - Medo eu tenho é de ficar sozinha na minha casa. Lá não vejo ninguém, lá a comida não tem sabor, só tem tapete, uma televisão velha e o fogão.
Homem - Mas é mais seguro. É difícil. Mas é mais seguro, tia.
Senhora - Tia não, que não tenho irmãos. Não tenho pai e nem mãe. Cresci sozinha e moro sozinha. Nem sei se Deus existe menino. Esse vírus veio nos mostrar alguma coisa. O povo anda ruim.
Homem - Ixi! E como está. Não tem humanidade.
Senhora - Nunca teve!
Homem - Não?
Senhora - Olha só: Eu desci aqui pra por o lixo na lixeira, vim devagar porque tenho dor em todos os ossos, demorei uma eternidade pra chegar aqui , botei um perfume porque sou vaidosa e você vem me acusar de fura vírus? Devia era ter pegado meu lixo que está pesado.
Homem - Puxa, me desculpe. Me dá!
Senhora - Sai pra lá! Vai saber se você está contaminado. Eu hein. Quer cuidar de mim e não cuida nem dele mesmo. (Sai falando para si com uma verdade íntima)
Homem: Desculpa aí! (E põe a mão no nariz e depois leva à boca)
E eu observo de longe.
....o sapatinho azul era um charme.

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