ator-palco
Por que o que eu faço é sempre melhor do que o do outro?
Pela minha gostosa caminhada teatral e como um bom observador, virginiano com ouvidos atentos e olhos de Bete Davis que Deus me deu, onipresente, deparei-me sempre com isso, diversas vezes. Existe sim uma prepotência no meio teatral.
Faça longas caminhadas sob o sol e não aprende mesmo. Como absolutos senhores feudais – tão criticados por eles mesmos – conseguem em questão de minutos, numa ação corriqueira e simples, demonstrar o que realmente pensam sobre o fazer teatral – do outro! São os cupins do jogo! E sempre cercados de muitos admiradores. Sempre! Porque é mais fácil adorar quem está na crista da onda.
Quem não está no “mainstream” que vá plantar batatas! – eu já ouvi isso de gente, teoricamente, de arte. Na Terra da “Banania”, quem tiver maior casca, ganha. Não seríamos nós, os da arte, os mais sensíveis e sensibilizados? Não subestimem ninguém, sensíveis somos todos. Uns mais, outros acostumados.
Não quero, com isso, ser o detentor da justiça ou a Madre Tereza de Calcutá dos pampas. Quero sublinhar que toda forma de arte merece respeito e que todo processo teatral é digno de criação de emprego (seja ele remunerado ou não), valorização da criação, ideia planejada e executada e sempre feita para alguém assistir, além de uma provocação interna nos atores, no diretor, na equipe toda. Em processos de criação, ficamos sempre muito imbuídos com os temas abordados na montagem, nos fazendo melhores pensadores e melhores seres humanos. Isso ninguém tira de nós!
É nossa obrigação enquanto artistas. Basta de “achismos”. Quando não se conhece e julga, é preconceito. Conceitue-se e daí vira opinião, gosto, sei lá!
Outro dia li algo assim: “…só vamos ter comédia no governo do fulano de tal…”, num tom pejorativo. Pensei: Quanto desrespeito aos profissionais que fazem comédia (naquele contexto). A polarização política apaga o bom senso? Até porque governo algum incentiva a arte na sua totalidade.

Fui ver a vida da figura: não produz nada, 
fica vendo o mundo passar 
imaginando o cachê

Outra vez li, “Digo não aos grupos de teatro que não pagam por ensaios, só faço teatro com cachê no ensaio…” Pensei: “Estamos na Terra do Nunca?” Fui ver a vida da figura: não produz nada artisticamente, fica vendo o mundo passar imaginando que o cachê vai rolar no ensaio. Poucas são as produções que fazem isso, boy! Saia das linhas “facebookianas” e vai pra cima. Crie! Pague a você o seu cachê!
Há muito ódio nas entrelinhas. Um cara outro dia acabou com o teatro de grupo dizendo coisas tão valiosas para quem faz teatro de grupo, que a experiência dele não deve ter sido nada boa. A solução é achar uma saída e não culpar isso pela própria falta de coragem perante a vida e a arte. Não julgue quem está trabalhando: é feio, é imoral!
Dou aqui os parabéns, com braços bem largos, à escala enorme de artistas que se viram, que criam seus espetáculos de dramas, comédias, dança, humor, stand up, tragédias, performances, enfim. Àqueles que saem da cretinice do reclamar!
E outra: só diga que não gosta de algo se provar! Sem provas, não há argumentos. Em Teatro é igual. Cuidado: é de um povo polarizado que os “carecas” gostam mais!
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Um livro para ler: Para um teatro pobre – Grotowski / Eugenio Barba

Os textos que fazem parte desta obra foram organizados pelo teatrólogo italiano Eugenio Barba, que versa sobre o teatro sem efeitos e embasado na relação real e viva entre espectadores e atores, amplamente praticados pelo encenador polonês Jerzy Grotowski, criador do chamado “teatro pobre”.