palcoAs luzes do palco se apagam, o ator se retira do cenário.
Começa o processo de tirar a maquiagem, borrada com o suor escorrido, tirar também o figurino que enalteceu suas ações. O tempo vai acalmando aquele torpor lá do início do espetáculo quando soavam os três sinais do teatro. Um peito quente, um furor íntimo!
Como um clima pós-guerra, não se ouvem mais frases completas, conversas que vão desaparecendo sem eco, alguns poucos risos, respirações, barulho de desmonte – o cenário já era.
“Tchau, fulano… até a semana” (vai silenciando o barulho)… “Que demaquilante ruim! Tô com cola no olho vou assim mesmo, depois sai no banho…”
Mala fechada, hora de dar um tchau pra aquilo tudo, olhar circular, panorâmico. O camarim deve estar em ordem!
Está tudo em ordem, somos artistas conscientes!
Daí é cada um para o seu lado. Se tiver um dinheirinho, rola um jantar, um lanche ou uma bebidinha; se não, vai ser o que tiver em casa mesmo e se tiver! (Já conheci ator que comia pipoca, aquela do saquinho vermelho, doce)
atorSe tiver um carango, a mala vai guardadinha no porta-malas, se não, vai pesando nas mãos dentro da condução que demora um montão de tempo para passar. O cansaço abre portas para o sono, mas este não pode vir não, porque a mala está na mão. Não corra riscos – acusa a consciência.
Sono. Sonhos. Cansaço. Sonhos. Here comes the sun!
Acorda sozinho. Toma café, come uma tapioca recém-preparada e desperta de vez. Sorri, porque um risco de memória o levou ao palco. Como é bom! O palco! Olha ao redor, não tem público, não tem ninguém, não tem plateia. Solidão. Solidez. Solitude!
O ator é esse ser humano agraciado com o poder da companhia e da falta dela. É instigante! Nota-se: em nenhum momento, estou dizendo que isso e bom ou mal. Na maior parte, as agruras, como dizia Shakespeare, chegam para nós, atores, por meio da nossa sensibilidade mais apurada.
Percebemos quando nossa família não “liga muito”; quando nosso amor prefere mais o jantar a falar sobre o espetáculo que viu (ao menos uma vez TEM que ver); quando a ausência daquele amigo que você ama se faz presente na temporada toda; quando ninguém pergunta nada, absolutamente, como se você fosse cobrar algo; quando acham que ser ator é “glamour” e associar sempre às novelas televisivas. Quantos tabus a serem pensados!
teatroHá, também, o abraço recebido de pessoas amigas, conhecidas ou não. Mas é “bão” Sebastião”. Chocolates, mimos ou flores, tão essenciais!
No fundo, o ator é um bicho solitário. Solitário, só, sozinho, solto, solícito, criador!
E aquele ator que souber usar isso a seu favor, fará um bem enorme a sua autoestima e à arte ao seu redor, criando dramaturgias, cenas, poemas, músicas, ideias, imagens, ações….
Porém, a solidão é um caos. Atormenta. Ator! Menta…lizar! O modo pensar é um antídoto natural ao caos.
E sorte a nossa que tem o público com seus aplausos para nos remediar e voltar na próxima sessão.
Namastê!
Sim, nós somos o exército de um Homem Só!