esperando
Quando penso em criar alguma coisa em teatro, automaticamente penso nas parcerias que precisarei fazer. Podem chamar isso de conchavo, outros de “panelinha”, outros somente de PARCEIROS.
Pois é! Parceiros, na minha concepção, são aqueles seres maravilhosos (quase uma fadinha de “Sonhos de uma noite de verão”) que nos estendem as mãos para que nosso projeto/sonho/vontade ganhe vida ou saia do papel.
Os parceiros podem ser ouvintes das lamúrias por falta de grana ou perda do sono ou aqueles que investem junto com a gente, seja em dinheiro ou permutas para a temporada. Patrocínio, apoios, permutas, listas, convênios, ajuda operacional ou monetária. É sempre bom lembrar que teatro não é a arte de se fazer sozinho. Sozinho não, bem ou mal acompanhado, teatro é arte de mais do que um.
teatroPara se levantar um espetáculo nunca devemos fechar os olhos para as circunstâncias ao nosso redor. Da presença de dinheiro pouco para comprar um lanche para a galera até o dinheiro para um cachê compensador (coisa rara), as dificuldades são sempre alçadas a um patamar maior, pois acabam gerando um efeito cascata na turma toda. NÃO devemos permitir que esse vírus contaminador do bom humor e da vontade árdua do fazer tome conta dos camarins e salas de ensaio. Nesses casos, para diminuir essas dores, as parcerias vêm bem a calhar.
Acontece que, nem sempre (e quase sempre) a dificuldade de alguém acreditar num projeto de arte neste país é gigante, E em se falando de teatro então… melhor nem comentar, ou melhor, vou exemplificar:
“Reunião de família, Ronaldo está na sala, as tias todas ao redor, Ronaldo pensando no namorado que não está com ele. Uma tia simpática chega e pergunta onde ele trabalha. Ele diz: “Trabalho no teatro, sou ator!” Ela diz: Perguntei onde você trabalha. Você já está na idade de se casar!” Ronaldo olha, põe o fone de ouvido e canta “Let it go”, o clássico de Frozen. Melhor nem falar! Se em casa, ocorre assim, imagine quem não te conhece. Acreditar num projeto teatral não é tarefa nada fácil.
espetaculoOutro dia numa reunião de amigos (muitos atores), estávamos falando justamente disso, das famosas panelas. Porque cargas d’água é tão difícil acreditar em alguém, ou mesmo parar e ler uma proposta de teatro recebida, senhores? Existe preconceito na classe que sofre tanto preconceito? Sim, existe! Eu mesmo já bati com um projeto de humor num desses points teatrais e ouvi um mezzo sorriso seguido de um deixa aqui, depois ligo pra você. Essa mesma figura que não ouso dizer o nome, não foi digna nem de abrir meu projeto, quanto mais ler. Ligar então, pra quê? E tá aí, na crista da onda! Cadê a tia? Depois reclamam dela… Saudade do tempo onde o teatro estava bastante livre de amordaças umbigueiras, recheadas com egos superinflados e onde os parceiros (ao redor) resumiam-se a uma honesta opinião sobre tudo.
Mas os tempos são outros. Parceirizar é amar e tornar possível seu projeto. Seus anseios e gostos divididos com a equipe. Só não façamos disso uma maneira estúpida de segregar pessoas e pensamentos. É justamente o oposto! Parceirizar é sinônimo de compartilhar.

Indicação
  • Livro para ler: A importância de ser prudente, de Oscar Wildecapa_Importância_prudente.indd
Poucos nomes da literatura rivalizam com a combinação de humor, perspicácia e ironia que são a marca registrada de Oscar Wilde (1854-1900).
Nesta comédia farsesca, Prudente, dândi da rica sociedade tem muito a esconder da sociedade a que ele pertence.