Em tempos de crise, envolver-nos em assuntos medíocres e dar crédito as cabeças nada pensantes parece ser um objetivo fielmente perseguido por muitos.
rainhaEm meio a tonalidade de um vestido imbecil e o impasse para saber quem é o vilão da novela mequetrefe, encontramos a queda, no show, de Madonna. Isso mesmo! A Rainha do Pop caiu no show! Oh! Que importante! Oh, meu Deus, o que será do mundo artístico de agora em diante? Oh, alguém vai pagar por isso. Chamem a Rainha de Copas de Alice no país das Maravilhas e ordenem: “Cortem-lhe a cabeça!”.
Santo prognóstico babaca e cru! O palco e o show nunca é totalmente seguro. Quem deve levantar o Oscar de Segurança nessa hora é o artista/ator. E isso, Madonna fez, mesmo tendo machucado a cabeça. E ninguém comentou. Melhor é apontar o indicador e dar um milhão de risadas e compartilhadas. Viva o circo! Panis et circenses. Estamos voltando aos gladiadores romanos?
hamletEu mesmo tenho esquecimento de marcas e textos no meu currículo. Conheço gente que já comeu metade do texto de Hamlet, caiu do palco, entrou seminu porque não achou o figurino. Certa vez, em Hamlet, saí do palco e quando entrei na coxia, vejo uma atriz chorando copiosamente. O que foi? Perguntei. Sumiram (?) com o crânio do Hamlet! (Ela que tinha que cuidar do acessório) E danou-se a chorar! Com muita calma nessa hora, infiltrei-me por todos os lugares que ali poderia existir e enxerguei, lá longe, debaixo do palco, o bonito crânio de Yorick, não de Hamlet bonita atriz! Peguei. Do choro ao riso, ela entrou em cena e tudo desenrolou como combinado. Cadê a sua segurança dona atriz?
O palco, esse nosso maior aliado, está ali ao nosso dispor, mas alguém pode esquecer-se de dar um nó falso para soltar o casaco, não é Madonna? O que fazer? Cair e levantar majestosamente e seguir com o espetáculo. Deixe o mico para quem ainda gosta do riso fácil e o riso para a reunião de equipe na sala de estar ou no bar e na memória dos anos seguintes. O que importa é que o show não deve parar!
FUNDAÇÃO DAS ARTES TERÁ NOME DE ATOR FOTOS DO PALCO VAZIOO palco é onde estão expressos os nossos sentimentos, nossos olhares, nossas expressões, nossa criação, nossa criatividade, nosso ego, nossos amores, nosso descaso, nossas brigas, nossas peles, nossos membros, nossos ossos. É nele que vivemos uma história. É sagrado! Ele embala os nossos rituais. Eu tenho o palco como companheiro. Tenho imenso respeito! Por isso que, quando, algo dá errado, é meu dever sair por cima. É o imprevisto jogando com o programado. Por isso Madonna, eu não te aponto, eu te aplaudo.
E nós devemos repensar Panis ET circenses? Fica a cargo do nosso palco pessoal – o pensamento! Ele é nosso amigo.
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  • Livro para ler: Grupos Teatrais – Anos 70, de Silvia Fernandes
livroLivro de pesquisa de Silvia Fernandes, onde expõe a contribuição de importantes grupos teatrais no Brasil na década de 70, como Asdrúbal trouxe o trombone, Pod Minoga, Ventoforte, entre outros. O suporte documental em que se baseia a obra nos proporciona entender o que esses grupos pensavam nos seus processos de criação e suas relações com o palco.