quinta-feira, 2 de julho de 2020

Conversas do cotidiano - Cores de Letícia

Conversas do cotidiano
Cores de Letícia
_Letícia, sai daí menina.

A pequena Letícia entretida entre as cores dos brinquedos da loja nem deu importância para aquela que seria sua suposta mãe ao meu olhar. Com mãos pequeninas, tocava sem medo algum à vírus, seguranças carrancudos e mães "preocupadas", os brinquedos amontoados entre outras coisas mais caras. Era uma napoleônica descobridora.

-Letícia, vou chamar o homem do saco pra te pegar!

A pequena nem ligava. "Esse homem não existe" - eu pensei que ela pensou!
A mãe, a essa altura, já estava irritadinha. No bolso traseiro da calça "hiper surround mega justa", um celular estilo papiro moderno, desenhava pela metade a sua outra metade. O cabelo cedia ao opaco e ordens marchavam:

_Letícia, mas menina, não mexe em nada. Olha lá a polícia. Ela vai te prender.

Letícia nem dava de ombros, nem ouvia. Apertava o banco da bicicletinha da Barbie. Os olhos brilhavam, os dedinhos desenhavam a vontade de ter o brinquedo.

_ Letícia vamos embora! Você vai derrubar tudo aí.

A pequena virou-se então, olhou bem para a cabeluda mãe e disse cantando:
_"Borboletinha tá na cozinha..."

Não resisti e dei uma sonora gargalhada daquelas que eu passo vergonha.
Adoro a filosofia!

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