quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Conversas do cotidiano - Ativo ou passivo? Aplicativo!

Conversas do cotidiano
Ativo ou passivo? Aplicativo!
Duas mulheres maquiadas ao extremo com bases em tom nada a ver com elas. São parecidas e divertidas. Tem aquelas zarabatanas tatuadas no lugar das sobrancelhas, cabelos curtinhos, olhos pretos e vivos; bocas vermelhas quase sem forma, uma usa camiseta cinza e calça preta e a outra exatamente o inverso. Quase uma dupla boba de música popular. Uma está grávida e três pessoas a sua frente fingem dormir a dar lugar para ela sentar-se com o rebentinho aconchegado na barriga. Estamos no trem não muito cheio em São Paulo, linha Esmeralda.
Mulher 1 - Deus me defenda, todo dia Lucas vive socado naquele celular. Pra cima e pra baixo. Um dia afogarei no tacho aquela porcaria. Ele fala que é aplicativo.
Aplicativo, aplicativo; que droga de aplicativo é esse? Deixa ele, que se o pai dele não der jeito, eu dou. Sento a mão. Não faz nada o moleque.
Mulher 2 - Mas é a juventude. Menino sem celular fica até doente. Meu Pierre tem o dele.
Mulher 1 - Espia só. Só moleque que nada. Todo mundo nessa droga de aplicativo. Olha aí no trem, ninguém tá vivo. Tá tudo encurvado como uma chaleira. Depois reclama da coluna.
Mulher 2 - É mesmo, né? O que será que tanto vê? Outro dia tinha um besta cantando sozinho. Uma voz horrível e uma música que ninguém entendia. E ficam vendo novela, filme, sei lá.
Mulher 1 - Lucas falou que é série.
Mulher 2 - Fora de série, isso sim!
Uma gargalhada sonora ecoou e alguns olhares.
Mulher 1 - Pra mim, deve ser safadeza. Lucas não me engana. Fica de namorinho, risinho e fica bravo quando eu quero ver.
Mulher 2 - Pierre não! Ele põe os fones de ouvidos e fica igual aquela lá. Espia. Tá dormindo com fones de ouvidos. "Dorme nenê que a Cuca vai pegar..."
Mulher 1 - Rereré. Tomara que pegue mesmo. Você viu a novela ontem?
Mulher 2 - Eu não. Fiz mistura pra marmita de hoje.
Mulher 1 - Tá vendo? Se ficasse no aplicativo ia comer na rua. Coxinha.
Mulher 2 - Eu hein. Meu filho pede comida. Ele ronca.
Mulher 1 - Oxe! Quem ronca é você fominha. Quem não te conhece que te compra.
Mulher 2 - Rereré. Vem mulher, chegou a estação. Dá licença!
- quase gritou para um garoto cabeludo vendo algo no celular.
Ainda vi as duas caminhando em dois tons e a porta se fechou.
Pensei: Interessante esse tema e saquei meu celular.
...
"Chove lá fora agora."

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