5 amores
Outro dia, iniciando uma aula sobre teatro com alunos adolescentes, uma aula prática de disposição, percepção e vivacidade, um aluno, que já tinha me dito que queria ser ator, deitou-se sobre o tatame e deixou-se vencer pela agonia (dele) de ter que ouvir, processar e agir. Sentou-se e depois deitou! Deitou! Pensa se fiquei furioso? Fiquei, mas com o coração leve. Pensei: “Se o moço (que diz querer ser ator), não consegue ter o comprometimento consigo mesmo numa aula de teatro, imagine como será lá na frente? Ele terá que ampliar (e muito) esse senso de comprometer-se. Hoje é com ele. Amanhã, vai ser com ele, com o estudo, com os amigos atores, com o diretor, com o processo, com o corpo, com o espetáculo, com o público, com o Teatro”. Levante-se! – Pedi. A resposta foi um silêncio desprezível. Definitivamente, para ser ator, o respeito vem antes de tudo. Se você não respeita você ou alguém, como comprometer-se com aquilo que almeja? – respondi e toquei o barco com a turma que, a essa altura, me olhava com grandes olhos e ouvidos largos.
“Disciplina é liberdade”, já cantava Renato Russo em uma das suas muitas canções. Pois é isso mesmo. A disciplina contamina para trazer a liberdade que o ator precisará no decorrer de um processo teatral; Comprometer-se (olha a palavrinha aí novamente) com as regras e ousar acatar a disciplina acertada por horários, caminhos, estudos e compromissos o levará a uma ousada liberdade e trilhará um caminho por onde ele – o ator – versará seus venenos e doces sabores. Ter disciplina não é e nunca será só para soldados da pátria, são para os soldados da arte também.
Criador ou criatura, criatividade ou criação, criar ou não criar. Eis a questão. Não há um bom ator, se ele não instigar esse sobreolhar, se a sua imaginação não for abusada. Tem pessoas que são muito “ratas” na criatividade ou criação, outras não. Requerem um tempo. E está tudo certo. O importante é abusar dessa caixa pensante e não ter medo de errar. No processo pode-se errar abundantemente. Aliás, de grandes erros, podem aparecer grandes acertos. No Teatro é assim, a criatividade não é uma figura para pintar, é uma figura a ser construída para pintar.
Esses cinco amores descritos acima pode não ser sinônimo de sucesso, porém, podem fazer a diferença. A sua!
Ah, e o adolescente lá do primeiro parágrafo continuou em silêncio até o final da aula. Acho que pensando: “Careca babaca!”
Ou envergonhado por não ter comprometimento perante a vida e as suas escolhas. Mas calma, garoto, o caminho ainda é longo. Dei-lhe um grande abraço!
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